Artes Visuais

Câmara consegue reaver duas pinturas antigas da Capital

Vista do Guaíba, de Giovanni Falcone Foto: Tonico Alvares/CMPA
Vista do Guaíba, de Giovanni Falcone Foto: Tonico Alvares/CMPA (Foto: Tonico Alvares/CMPA)
Depois de 25 anos de negociações com a Prefeitura, nesta semana o Memorial da Câmara Municipal de Porto Alegre conseguiu reaver duas pinturas de inestimável valor artístico para a cidade. As obras, que estavam na Pinacoteca Aldo Locatelli, retratam aspectos da Capital antes de virar metrópole: Vista do Guaíba, criada por volta de 1893 por Giovanni Falcone; e Casario, de Gastão Hofstetter, de 1973. Os quadros haviam sido levados pelo Executivo em 1991, sob a alegação de que pertenciam a seu acervo. Agora, em 2016, autoridades e técnicos dos dois poderes finalmente concordaram que as pinturas são patrimônio da Câmara.

Óleo sobre tela colada em eucatex, a obra Casario - inicialmente intitulada Rua Riachuelo - tem 63cm x 72cm e mostra velhos sobrados coloridos da antiga Rua da Ponte, no Centro Histórico. O trabalho foi adquirido pela Câmara em 1973, escolhido pelo ex-vereador Glênio Peres para completar a decoração do Salão Nobre da Presidência. No ano seguinte, a Mesa Diretora da Casa, então presidida pelo ex-vereador José César de Mesquita, aprovou a aquisição de Vista do Guaíba, óleo sobre tela que impressiona pelas dimensões (0,95m x 1,97m) e retrata uma paisagem da Capital quase intocada, com barcos, banhistas e lavadeiras no ponto em que o Arroio Dilúvio desaguava no lago. 

Para Jorge Barcellos, pesquisador do Memorial do Legislativo, o “longo imbróglio” entre a Prefeitura e a Câmara até chegar a uma solução deve servir de alerta para a necessidade de leis específicas sobre as obras de arte nos espaços do serviço público. “Precisamos mapeá-las e garantir o acesso da população", defende. Conforme Cláudia Inácio, coordenadora do Memorial, a intenção é exibir as pinturas no Salão Adel Carvalho, espaço nobre localizado no segundo piso da Câmara.

Expoentes da arte

Gastão Hofstetter e Giovanni Falcone, os autores dos quadros reavidos pela Câmara, tiveram suas trajetórias ligadas à Capital, transformando-se em expoentes da história das artes de Porto Alegre:

Gastão Hofstetter (1917-1986) – Gravador nascido em Porto Alegre, começou a pintar nos anos de 1930, quando participou da Exposição do Centenário Farroupilha, em 1935, enquanto garantia o sustento como capista e cartazista da antiga Livraria do Globo, cargo que exerceu até 1941. Participou do Clube da Gravura de Porto Alegre nos anos 50 e foi co-fundador da Associação Rio-Grandense de Artes Plásticas Francisco Lisboa. Em 1951, ingressou como desenhista no Departamento Nacional de Estradas e Rodagem (DNER), mantendo a dedicação à pintura. Premiado em congressos e salões de arte, entrou para o Salão de Arte Contemporânea Brasileira ao lado de mestres como Di Cavalcanti e Djanira. Sobre Hofstetter, dizem Renato Rosa e Décio Presser, no Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul: “Encarnava o mito do artista moderno do pós-guerra, boêmio e romântico. Amou Porto Alegre, retratando-a com muita sensibilidade, documentando os antigos casarões que demoliam ou se transformavam em cortiços”. 

Giovanni Falcone (datas de nascimento e morte imprecisas) – Era um dos mais versáteis pintores da segunda metade do século XIX. Foi também cenógrafo, decorador e paisagista, pintando a óleo e aquarela. O italiano chegou a Porto Alegre em 1892, e, diferentemente de artistas como Guilherme Calegari, trouxe na bagagem apenas os instrumentos de seu ofício, mas nenhuma obra acabada, motivo que o levou a pintar cenas locais, logo chamando a atenção. Expôs na famosa Casa Gertum, e no Salão do Café Pátria, na capital gaúcha, vendendo várias paisagens da cidade. Pintou outros diversos temas, como figuras humanas, e soube relacionar-se com a opinião pública por meio da imprensa, em especial o Jornal O Mercantil, que anunciava seus leilões e obras. Diz Athos Damasceno Ferreira no livro Artes Plásticas no Rio Grande do Sul: “Tirando todo partido possível das simpatias que inspirava, Giovani Falcone viveu vários anos entre nós, mas nem por isso deixava de evidenciar qualidades ponderáveis em sua arte”.


Texto: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)