Plenário

Câmara homenageia vítimas da tragédia do voo da TAM em 2007

Voo JJ3047, saído de Porto Alegre, se acidentou no aeroporto de Congonhas (SP), vitimando 199 pessoas.

  • Período de comunicações. Memória às vítimas da tragédia com o voo JJ3054 da TAM que completa 10 anos dia 17 de julho. Na foto, Elisabeth Vanzim, mãe de vítima da tragédia.
    Elizabeth Vanzim lamentou que ninguém tenha sido punido (Foto: Luiza Dorneles/CMPA)
  • Período de comunicações. Memória às vítimas da tragédia com o voo JJ3054 da TAM que completa 10 anos dia 17 de julho.
    Familiares das vítimas participaram da homenagem (Foto: Luiza Dorneles/CMPA)

Durante o período de Comunicações da sessão ordinária desta quinta-feira (13/7), os vereadores da Câmara Municipal de Porto Alegre prestaram homenagem às vítimas da tragédia do vôo JJ3047 da TAM, que completa dez anos no próximo dia 17. A homenagem foi proposta pelo vereador Cláudio Janta (SD).

O voo JJ3047, operado pela TAM Linhas Aéreas, partiu de Porto Alegre com destino ao Aeroporto de Congonhas em São Paulo. Na tentativa de pouso, a aeronave excedeu os limites da pista e colidiu com prédio e posto de gasolina existente em área externa ao aeroporto. O acidente vitimou 199 passageiros e tripulantes a bordo e 12 pessoas em solo.

Roberto Correa Gomes, assessor de imprensa da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Acidente do Voo JJ3054 da TAM (Afavitam), afirma que tem uma missão diferenciada, por ser assessor voluntário da associação e por ser irmão de uma das vítimas da tragédia. Ao longo dos dez anos, Roberto conta que, junto aos familiares das vítimas, foi possível transformar o luto em luta. "Para nós surgiu uma missão, cada um tinha que fazer o seu papel", disse. Conforme ele, durante esses anos a associação tem tido visibilidade graças à imprensa, que sempre esteve em busca da verdade junto ao grupo. "Sem ela [imprensa], nós seríamos invisíveis, cairíamos no esquecimento", agradeceu. Segundo Roberto, a Afavitam se manteve firme e hoje é uma grande família, tendo realizado já mais de 50 reuniões familiares. Para ele, a ganância, a negligência, a falta de respeito com as leis de aviação e a falta de respeito ao consumidor são as principais causas da tragédia. 

A mãe de uma das vítimas, Elizabeth Vanzim, complementa que já se passaram dez anos da tragédia e quase nada mudou em relação aos culpados e punidos, pois das 11 pessoas indiciadas apenas três se tornaram réus no processo que investigava o acidente, mas todos foram absolvidos pela Justiça. “Essa foi a maior tragédia aérea do Brasil. Todos ficamos marcados. Que Porto Alegre nunca esqueça das pessoas que deram a sua vida por irresponsabilidade de muitos”, declarou. Emocionada, contou aos vereadores que, como mãe, sente que tem uma faca cravada no peito e que a cada dia ela se mexe um pouco. “Eu não tenho palavras para descrever o que eu senti naquele dia. Jamais vou esquecer o sorriso e a voz dele dizendo que sábado ele estaria de volta. Eu fui buscá-lo (o corpo em São Paulo) 15 dias depois”, expôs. Na sequência, Elizabeth convidou os parlamentares para participarem de um culto ecumênico em homenagem às vítimas na próxima segunda-feira (17/7), às 15 horas, no Largo da Vida, localizado ao lado do aeroporto Salgado Filho.

Parlamentares

Em tempo de Lideranças, os vereadores manifestaram apoio aos familiares e amigos das vítimas: 

Cláudio Janta (SD) lamentou a maior tragédia de aviação da história do Brasil. "Em nome de toda a população de Porto Alegre, manifestamos não somente nossa solidariedade, mas também nosso pedido de justiça", afirmou. De acordo com Janta, não é possível compreender a decisão judicial que entende que ninguém deve ser responsabilizado. "É lamentável que o sentimento de impunidade ainda tenha que acompanhar a dor destas famílias." No mesmo sentido, José Freitas (PRB) destacou que esta é uma luta permanente. "Uma luta que está presente toda vez que entramos num avião, esta é a realidade", comentou. Também parabenizando a iniciativa da homenagem, José acredita que os vereadores devem se somar a esta luta dos familiares de vítimas da tragédia. 

"Hoje é um dia de muita tristeza para todos nós", disse o Professor Wambert (PROS), que homenageou amigos e conhecidos que estavam no voo JJ3047. Wambert declarou que possui "um vínculo pessoal e espiritual" com a tragédia, pois havia comprado passagem para viajar no mesmo voo. Emocionado, ele explicou que não embarcou porque sua filha recém-nascida aparentava ter um problema cardíaco, o que o impediu de viajar. O vereador também pediu para que se faça justiça, pois tem convicção de que não foi um acidente. "Foi uma tragédia resultante de uma incompetência de um governo que não se preocupava com a infraestrutura do país." Wambert ainda disse que é preciso perseguir e punir todos os níveis de corrupção. 

Mônica Leal (PP) comentou que, no período do acidente, era secretária estadual do governo Yeda Crusius e trabalhou como agente pública voluntária na grande força tarefa montada pelo governo do Estado para auxiliar os familiares das vítimas nas questões burocráticas, envolvendo o translado dos corpos de São Paulo a Porto Alegre. “Nosso trabalho era acompanhar os pais que iam fazer o reconhecimento dos corpos. Todos os dias eu saía do aeroporto desesperada, sem saber como ajudar, tamanha a grandeza da dor e da tragédia”, relatou.

Roberto Robaina (PSOL) acredita que o vereador Janta fez uma homenagem correta e importante para que este dia não seja esquecido. "Um país em que ocorre tantas tragédias, o senso comum na sociedade acaba se sobrepondo e o esquecimento dominando, mas para quem viveu individualmente esta tragédia o sofrimento não termina", lamentou. Para Robaina, a responsabilidade pública em não deixar cair no esquecimento é uma tarefa da Câmara Municipal de Porto Alegre, cidade de origem do voo. Ainda de acordo com o vereador, esta luta precisa ser aprendida e parabenizou todas as pessoas envolvidas nesta batalha. 

Rodrigo Maroni (PR) também ressaltou a importância da homenagem na Câmara, pois este tipo de acidente pode acontecer a qualquer momento. “Que se pensem alternativas para que isso não ocorra mais”, destacou. No mesmo sentido, Álvaro Araújo (PSDB) explanou que “essa data jamais será esquecida, porque os parentes e amigos ainda buscam explicações para preencher o vazio deixado pelas vítimas”. Ele relembrou que o deputado federal Julio Redecker (PSDB) também morreu na tragédia e homenageou o colega de partido "que exercia uma liderança autêntica e idealista".

Mencionando que “quem sente a dor não a domina”, Adeli Sell (PT) disse que ainda “é impossível, passando todos esses anos, dominar essa dor que é coletiva”. Ele questionou o papel dos agentes de segurança na apuração do acidente e qual seria a responsabilidade penal e civil dos indiciados pela Justiça Federal, que foram absolvidos. “Esse acidente não pode ficar impune, porque a impunidade fomenta a irresponsabilidade. A vida dessas pessoas não voltará, mas pode voltar a esperança de que situações como essas não serão mais vivenciadas”, lamentou.

Texto: Munique Freitas (estagiária de Jornalismo)

           Cleunice Schlee (estagiária de Jornalismo)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)