Comissões

Demitidos acusam Carris de cometer arbitrariedades

Weber apontou irregularidades na gestão Foto: Ederson Nunes
Weber apontou irregularidades na gestão Foto: Ederson Nunes
A Comissão de Defesa do Consumidor, Segurança Urbana e Direitos Humanos (Cedecondh) da Câmara Municipal de Porto Alegre ouviu, na noite de terça-feira (3/12), funcionários da Carris que foram demitidos por suspeita de fraude no sistema de bilhetagem eletrônica. A reunião extraordinária foi proposta pelo vereador Pedro Ruas (PSOL). “Tive informação de que, nos processos de demissão, não houve o contraditório. Houve apenas a acusação. Quando há uma acusação, tem que haver uma defesa. Isso fere princípios elementares, não só da nossa Constituição, como do Direito Internacional”, ressaltou.

Ao todo, a direção da companhia demitiu 28 servidores. “O que está acontecendo é uma tentativa de querer minar o foco principal da questão, que é a barbeiragem administrativa que acontece na Carris atualmente. Só neste ano, o déficit está perto de R$ 33 milhões”, apontou o delegado sindical Alceu Weber. “Quando essas pessoas forem readmitidas, essa conta vai aumentar, e quem vai pagar é a população.”

Weber também denunciou a compra, sem licitação, de "câmeras superfaturadas" por R$ 300 mil, que, segundo ele, poderiam custar R$ 90 mil. “Sabem quantos CCs (cargos em comissão) existem na Carris? São 63, e mais 84 gratificações, totalizando R$ 3,68 milhões ao ano. Isso se chama custo provocado. Como uma empresa assim pode dar lucro?”

Outro delegado sindical, Luis Afonso Martins cobrou que a direção da Carris apresente as provas contra os colegas demitidos. “Alguns companheiros têm mais de 25 anos dedicados à Carris. De que forma serão devolvidos esses valores morais? Querem colocar na conta dos cobradores a má gestão que está afundando a Carris”, afirmou.

Um dos demitidos foi Albrantino Couto dos Santos. “Em 15 anos de Carris, não tenho nenhuma falta. Que provas têm contra mim? Fiquei três horas pensando em me jogar na frente de um carro, mas tenho filhos e um netinho. Quase fiz uma bobagem que seria tirar minha vida. Acabei indo procurar um psicólogo que me encheu de remédios para depressão”, disse.

O cobrador Donn Krause também faz parte do grupo de demitidos. “Estou sendo chamado de ladrão. É por isso vou entrar na Justiça com processo de dano moral”, alertou. Contou que lembrava de um caso de uma pessoa que oferecia o cartão cobrando R$ 2,00 quando a passagem custava ainda R$ 2,85. “Falei que ele não podia fazer aquilo e ele me mandou ficar quieto e não me meter porque senão me pegaria. Eu me senti intimidado.”

O grupo também fez críticas à imprensa, que teria, na sua opinião, veiculado notícias apenas com a versão da companhia, sem dar espaço para as manifestações dos funcionários demitidos.
 
A presidente da Cedecondh, Fernanda Melchionna (PSOL), analisou as demissões como “uma tentativa política de desmoralizar e enfraquecer a categoria numa época em que o dissídio se aproxima". Segundo ela, os funcionários da Carris sempre estiveram na linha de frente das lutas por um transporte público de qualidade. Como encaminhamento, a vereadora agendou uma nova reunião da comissão para o dia 13 de dezembro. Além da direção da empresa, serão convidados representantes dos Ministérios Públicos Estadual e do Trabalho.
 
Também participaram da reunião os vereadores Luiza Neves (PDT), Marcelo Sgarbossa (PT), Mario Fraga (PDT) e Sofia Cavedon (PT).

Texto: Maurício Macedo (reg. prof. 9532)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)