Procuradoria da Mulher

Educação de gênero é tema de abertura de seminário

II Seminário Nacional de Educação de Gênero é realizado nesta sexta na Câmara

II Seminário Nacional da Procuradoria Especial da Mulher, sobre Práticas Pedagógicas pelo Fim da Violência Contra Mulher – Rede de Atenção Pelo Fim da Violência Contra Mulheres e Meninas.
Evento acontece no Plenário Otávio Rocha (Foto: Henrique Ferreira Bregão/CMPA)

A introdução da disciplina sobre gênero nas escolas esteve no centro do debate da abertura do II Seminário Nacional de Educação e Gênero, promovido pela Procuradoria Especial da Mulher da Câmara Municipal, nesta sexta-feira (31/3). A professora Myrian Aldana Santin, da Universidade Comunitária de Chapecó (SC), como primeira painelista, disse que é uma mulher católica e tem trabalho em diversos países. Ela explanou sobre o tema ideologia de gênero: “Muitas pessoas têm dificuldade de lidar com a palavra e muitos educadores não querem o embate entre gênero e religião por tratar-se de uma palavra difícil a religiosos”, explicou Myriam. 

Segundo ela, a ideologia de gênero é um termo de quem se opõe ao ensino da disciplina. “A palavra correta é educação de gênero e está bem fundamentada nas diretrizes do Ministério da Educação desde 2015, sempre no sentido de combater os preconceitos”, corrigiu Myriam. Entretanto, em sua visão, as diretrizes são claras e os municípios têm autonomia para adaptar o debate nas escolas de acordo a capacidade de aceitação das comunidades. 

Myriam entende que a dificuldade do debate de gênero ocorre a partir do momento em que o conceito de família nuclear tradicional começa a ser questionado, o que remete Conferência de Pequim. Pois na visão dos cristãos fundamentalistas essa é uma temática marxista e ataca a educação tradicional das meninas e dos meninos voltada para a formação da família nuclear. 

Conforme a educadora, a ideologia de gênero passou a ser considerada como um tema que estimularia as mulheres a não ter filhos dentro do casamento. Em sua opinião, o debate sobre gênero pode ser tratado sem atacar as famílias e sem destruir o conceito tradicional. “Família, reprodução, sexualidade e religião são temas que não podem ficar de fora da escola, mas estão prejudicados pelo peso das religiões”, reconheceu: “Elas têm muita força”, complementou. 

Porém, se for tratado corretamente, o ensino do tema do gênero nas escolas será de fácil compreensão, pois os adolescentes precisam se apropriar de suas vidas e de seus corpos. Para Myriam, a implantação de uma escola laica no Brasil ainda não ocorreu justamente pela potência com que as igrejas atuam junto aos governos com a intervenção direta do Vaticano. 

A professora observou que para os fundamentalistas religiosos ainda há uma dificuldade de enfrentar o fato de que a ciência tem respostas melhores do que a religião no que toca ao conhecimento da natureza humana. No centro dessa disputa ideológica e religiosa está a forte oposição das igrejas em reconhecer a união entre pessoas do mesmo sexo. 

Violência

A advogada e professora da Universidade de São Paulo, Marina Ganzarolli, fundadora da Rede Feminista de Juristas, reunindo advogadas, promotoras, juízas, delegadas de polícia e defensoras públicas, falou sobre o tema do estupro. Ela disse que a rede foi fundada quando ela percebeu que atendia pelo menos dois casos de estupro dentro da USP a cada semana. O organismo ganhou força com a CPI dos Estupros da Medicina, na Assembleia Legislativa de São Paulo. “É muito difícil para a vítima denunciar, porque ela sente e revive o momento de violência e sente muita culpa”, assinalou. 

Marina apresentou um gráfico mostrando  que a cada cinco minutos uma mulher apanha no país e que o Brasil é um dos países campeões mundiais em feminicídio. “Ideologia de gênero é uma palavra criada pela bancada do boi, da bala e da bíblia. Esse tema é deles”, atacou. No Rio Grande do Sul, ensinou Marina, 73% dos entrevistados em uma pesquisa conhecem alguma menina que já sofreu alguma forma de violência. No Brasil ocorrem 500 mil estupros por ano, sendo que 70% cometidos contra menores, a grande maioria entre 13 e 15 anos. 

A professora da USP pontificou que estupro no Brasil é sinônimo de crime contra crianças e adolescentes, mas a conversa é difícil porque ninguém quer falar de pedofilia. Como jurista, ela explicou que, desde 2009, qualquer contato com o corpo de um menor de idade é estupro, no país. “Caiu o atentado violento ao pudor. Hoje tudo é estupro, beijo forçado e todas as formas de sexo contra crianças e adolescentes”, esclareceu Marina. Ela afirmou ainda que, mesmo depois de atingir a maioridade, a menor ou o menor podem denunciar uma violência sexual sofrida na adolescência.

A presidente da Procuradoria Especial da Mulher, vereadora Sofia Cavedon (PT), abriu o Seminário. Ela ressaltou a importância do evento, pois existem diferenças de compreensão sobre o tema na Casa. ˜O evento é para a mobilização e a resistência”. A vereadora Comandante Nádia (PMDB) também participou dos debates da manhã.

Texto: Fernando Cibelli de Castro (reg. prof. 6881)
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)