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Emef Mário Quintana clama por segurança

Professores relataram que semanalmente ocorrem tiroteios na Vila Castelo.

  • Visita da CECE à Escola Mário Quintana, no bairro Restinga.
    Na Vila Castelo, crianças convivem com o tráfico e a violência (Foto: Henrique Ferreira Bregão/CMPA)
  • Visita da CECE à Escola Mário Quintana, no bairro Restinga. Na foto, o vereador Tarciso Flecha Negra (Terno preto), e a vereadora Sofia Cavedon (Blusa Vermelha), e o vereador Alvoni Medina (Camisa Preta).
    Andréa Cortez (e), Alvoni Medina, Sofia Cavedon e Tarciso Flecha Negra (d) (Foto: Henrique Ferreira Bregão/CMPA)

A Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece) da Câmara Municipal de Porto Alegre esteve na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Mário Quintana, localizada na Restinga, na tarde desta terça-feira (11/4). O encontro faz parte do projeto da Comissão de visitar algumas instituições para verificar se a implantação das regras previstas no decreto municipal para a Educação irá prejudicar o desenvolvimento e a rotina escolar. No colégio, segurança é a principal reivindicação dos funcionários e dos familiares dos alunos.

A escola possui 660 alunos divididos nos turnos matutinos e vespertinos e, desde 2015, trabalha com quatro turmas integralizadas, sendo duas do 2º e duas do 3º ano. Segundo o diretor André Luis Correa, as crianças do turno integral ficam 10 horas no colégio e ao longo do ano mais duas turmas deverão entrar para o regime. “Esse é um projeto muito específico da Mário Quintana e é a única forma de remediar o problema social em uma comunidade tão carente como essa.” O diretor relatou que as comunidades no entorno são muito pobres e pediu por políticas públicas articuladas das secretarias municipais para resolver as demandas de segurança, saneamento e educação. “Toda vez que o poder público titubeia, o tráfico avança”, explicou.

A Vila Castelo possui o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Restinga, que já é um dos piores de Porto Alegre. Além disso, semanalmente ocorrem tiroteios durante o período escolar. A presidente do Conselho Escolar, Andréa Cortez, está na escola desde a inauguração, em 1999, e expôs que eles trabalham com uma “comunidade iletrada de gerações” e que as crianças convivem diariamente com o tráfico e a violência. “A segurança dos alunos são os professores”, afirmou, pois os guardas municipais não trabalham mais na Emef.

A professora de teatro, Gabriela Greco, comentou que é visível que o local está mais abandonado nos últimos meses. “Nós vemos crianças que não tem privada em casa, que nunca tomam um banho quente, que estão com mais fome e ainda mais a mercê da violência.” Grecco também contou que eles veem o “pessoal passando com as armas” e que, quando há tiroteios, algumas turmas têm aulas no corredor. No entanto, em meio a todo esse cenário, duas meninas que participam do projeto de teatro da escola foram escolhidas para integrarem o elenco da próxima série infantil do SBT.

Decreto municipal

Os professores da Mário Quintana criticaram duramente as mudanças impostas pelo decreto da Secretaria Municipal de Educação (Smed). “Eu não entendo como alguém que não conhece a realidade da rede chega e, sem consultar ninguém, altera toda a rotina escolar. A adequação ao novo horário não contempla as necessidades da comunidade”, manifestou a presidente do Conselho Escolar. Ela reiterou que a escola está seguindo a rotina escolar votada em assembleia pela comunidade e que a direção está recebendo advertências verbais e escritas e os professores estão sendo ameaçados por não cumprirem o que está exposto no decreto. "São absurdas essas ameaças", indagou.

O professor Gerson Valêncio explicou que a reunião pedagógica é essencial para que a equipe comente sobre os acontecimentos escolares e planeje ações conjuntas. A responsável pela orientação dos professores, Cintia Mozer, acrescentou que, em uma região como a vila Castelo, é necessário estar muito bem articulado e ciente do que se passa na comunidade porque “aqui basta estar vivo para correr risco”, salientou.

A professora Solange Roland contou que o único diálogo que o secretário municipal de Educação, Adriano Naves de Brito, teve com os professores foi ao afirmar que ele “tem 27 anos de experiência na educação e que sabe mais do que nós”. Por isso, “o que ele diz é correto”.

Famílias

Quatro mães participaram da visita e conversaram com os vereadores sobre os problemas enfrentados diariamente pelos alunos. Elas ficaram surpresas com a presença dos guardas municipais, que estiveram na escola durante a visita da Cece. “A comunidade não tem segurança e as crianças têm medo de vir para a aula. Aqui não tem tranquilidade e liberdade para os alunos”, explanou Lisiane Rodrigues, mãe de quatro filhos, dos quais três frequentam a instituição. Conceição Rodrigues, que possui dois netos na escola, explicou que “as crianças faltam por causa dos tiros”. Já Aline Rodrigues, mãe de um aluno, disse que a comunidade não tem estrutura para nada. “A única coisa que a gente tem são os votos”, ironizou.

Vereadores

O presidente da Cece, vereador Tarciso Flecha Negra (PSD), lamentou a situação em que a escola se encontra. “Como cidadão, eu acho isso tudo muito triste. É inacreditável o que está acontecendo aqui.” O vereador observou que a direção e os professores tratam com muito carinho os alunos e que não estão pedindo muito. “Eles querem segurança para poder desenvolver a cidadania aqui dentro”, defendeu.

Sofia Cavedon (PT) explicou a importância das visitas que a Comissão está realizando nas escolas municipais. “Nós estamos conhecendo para fortalecer os nossos argumentos e ter mais força na conversa com o prefeito municipal. Queremos levar a voz de vocês até ele”, afirmou a vereadora. O vereador Alvoni Medina (PRB) também acompanhou a visita.

Encaminhamentos

A ida à Emef Mário Quintana integra o projeto da Cece de visitar alguns colégios e apresentar, posteriormente, todas as demandas à Secretaria Municipal de Educação. A escola ainda sugeriu uma reunião com diversos órgãos para discutir a implantação das mudanças previstas no decreto municipal e ficará a cargo da Comissão organizar o encontro.

Texto: Cleunice Maria Schlee (estagiária de Jornalismo)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)