Câmara na Rua

Trincheira da Ceará, obra prevista para 2014, deve ser entregue em julho

Câmara faz vistoria da obra, que está parada, e cobra liberação urgente do trânsito na Avenida Farrapos

  • Visita do Presidente da CMPA à obra "Trincheira da Ceará".
    Moradores de rua convivem com lixo, ratos, fezes e mau cheiro em acampamento no entorno da Estação Farrapos (Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA)
  • Visita do Presidente da CMPA à obra "Trincheira da Ceará".
    Valter Nagelstein (de boné) garantiu que a Câmara cobrará da prefeitura o término das obras da trincheira na Avenida Ceará (Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA)

Ausência de homens trabalhando, vazamentos em paredes internas, entulho, trânsito pesado nas vias do entorno em função de bloqueio permanente e lojas fechadas. Este é o retrato da construção da trincheira da Avenida Ceará, que recebeu a visita de comitiva de vereadores na manhã desta sexta-feira (26/1). Iniciada em 2013, a trincheira é uma das obras inacabadas da Copa do Mundo no Brasil, cuja conclusão deveria ter ocorrido em 2014. Pelo novo cronograma da Prefeitura, a expectativa é que a trincheira seja finalizada em quatro meses após a retomada da obra, prevista para março.

Com um custo total orçado em R$ 32 milhões (restando um saldo a pagar de R$ 7 milhões), em novembro de 2016 a Prefeitura lançou nota informando que a obra estava 92% concluída e que o trânsito na região seria liberado no mês seguinte. Não foi isso que ocorreu. Em função de falta de pagamento (cerca de R$ 3 milhões), moradores e comerciantes da região notaram a gradativa redução do número de trabalhadores, até a completa paralisação da obra, ocorrida em meados de maio do ano passado.

O presidente da Câmara, vereador Valter Nagelstein (PMDB), classificou de inaceitável o fato de a cidade padecer há cinco anos em função da obra. “Em qualquer lugar do mundo uma obra relativamente simples como essa tem de ser feita em cerca de dois anos. Era uma obra para a Copa do Mundo de 2014 e, pela perspectiva, não sei se fica pronta para a Copa da Rússia (a ser realizada neste ano).” Nagelstein informou que vai cobrar da Prefeitura a liberação urgente do trânsito na Avenida Farrapos. “A alça acima da trincheira já poderia ter sido entregue, pois já está pronta, o que resolveria a saída de Porto Alegre nesta região. Me parece que faltou uma intensiva, numa mesa de negociação, para poder ir por partes resolvendo o problema como um todo.”

O secretário-adjunto de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Alcimar Andrade Arrais, antecipou que a liberação da Avenida Farrapos será priorizada. “Esta será a primeira parte liberada da trincheira. A previsão é que, com a retomada da obra em março, a Avenida Farrapos seja liberada em abril”, explicou. Arrais destacou que a atual gestão, ao assumir, primeiro buscou conhecer a realidade da obra e as dívidas em aberto. Na sequência, afirmou, a Prefeitura buscou negociar com a empresa responsável, mas não foi possível chegar a um acordo, culminando na interrupção da construção. “Buscamos, então, o financiamento com o Banrisul, e a expectativa é que até fevereiro o banco encaminhe o contrato para a assinatura. Com o dinheiro liberado em março, retomaremos as obras. A preocupação que a administração tem agora é que, após serem retomadas, as obras sejam concluídas e não parem mais por falta de pagamento.”  

Também estiveram presentes na vistoria o vereador João Carlos Nedel (PP), assessores parlamentares, o presidente da Associação das Empresas dos Bairros Humaitá e Navegantes (AEHN), Luiz Carlos Camargo, a coordenadora de Relações Institucionais da entidade, Luciana Borba, e empresários da região.

Linha do tempo

- Janeiro de 2013: início das obras da trincheira da Ceará.
- Junho de 2014: em decorrência de diversos problemas, conclusão da obra não se confirma.
- Novembro de 2016: Prefeitura anuncia que obras da trincheira da Ceará estão 92% concluídas e que estaria liberada para o trânsito em dezembro de 2016. 
- Maio de 2017: obras são paralisadas por falta de pagamento.
- Junho de 2017: Câmara Municipal autoriza a Prefeitura a buscar financiamento de R$ 120 milhões para retomar as obras da Copa - trincheiras da Ceará, da Anita Garibaldi e da Cristóvão Colombo, duplicação das Avenida Tronco e Severo Dullius, e troca de pavimento dos corredores de ônibus das Avenida Bento Gonçalves, João Pessoa e Protásio Alves. Deste total, R$ 75 milhões seriam usados para terminar os empreendimentos e R$ 45 milhões para quitar dívidas atrasadas com as empresas. 
- Agosto de 2017: Prefeitura sanciona a Lei que autoriza o financiamento das obras.  
- Setembro de 2017: Banrisul apresenta menor taxa de juros e é escolhido como parceiro financeiro para garantir a conclusão dos trabalhos.
- Dezembro de 2017: Banrisul finaliza análise da documentação e Prefeitura comunica a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) sobre a intenção de buscar o empréstimo. 
- Janeiro de 2018: STN defere pedido da Prefeitura para contratar o empréstimo de R$ 120 milhões com o Banrisul.
- Março de 2018: previsão de retomada das obras.
- Julho de 2018: previsão de conclusão da trincheira da Ceará.

Estação Farrapos

No caminho de retorno, a comitiva fez uma parada na Avenida Farrapos, junto ao muro da Estação Farrapos, onde pessoas em situação de rua ocuparam o espaço com barracas e moradias feitas de lonas e outros materiais. A situação havia sido relatada por Camargo, em reunião com Nagelstein ocorrida no último dia 18.

Edson Santos, agente de segurança do Trensurb, disse que o problema vem se agravando e perdurando ao longo dos últimos cinco anos. Defendeu uma solução compartilhada do problema, por meio de ação integrada entre os diferentes órgãos públicos e os empresários da região. “Esta situação nos preocupa porque o número de moradores de rua está aumento no entorno da Estação Farrapos, e esta é uma área de risco, com cabos de alta tensão com 6 mil volts de energia, podendo haver um acidente de grandes proporções. É preciso dar uma condição mais digna para estas pessoas que moram aqui.”

Nagelstein garantiu que vai cobrar providências urgentes por parte da Prefeitura. “Está crescendo uma vila naquele local e é preciso dar uma solução digna para aquelas pessoas, pois trata-se de uma questão de saúde pública. Tem ratos, um odor insuportável de fezes e lixo de todo o tipo. Do jeito que está não dá mais”, lamentou.

Texto: Cibele Carneiro (reg. prof. 11.977)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)