Seminário

Avanços e retrocessos do Movimento Negro são debatidos no Legislativo

Seminário homenageou o militante José Alves Bittencourt, o Griô Lua, falecido em 2009.

  • Seminário Avanços e Retrocessos do Movimento Negro
    Participantes destacaram necessidade de valorização da cultura negra (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
  • Seminário Avanços e Retrocessos do Movimento Negro
    Debatedores criticaram o desmonte das conquistas obtidas pelo povo negro (Foto: Ederson Nunes/CMPA)

A Câmara Municipal de Porto Alegre sediou na tarde desta terça-feira (14/11) o Seminário Avanços e Retrocessos do Movimento Negro - José Alves Bittencourt, conhecido como Griô Lua. O evento integra a programação da 33ª Semana da Consciência Negra e Ação Antirracismo, promovida pelo Legislativo da capital gaúcha desde a segunda-feira (13/11). O tema da edição 2017 é “Por que é tão difícil falar sobre nós?”. 

A semana marca o Dia da Consciência Negra (20 de novembro), celebrado em memória de Zumbi, líder do quilombo de Palmares, morto em 1695. A atividade contou com a participação de Marisa Silva, como facilitadora, e dos palestrantes Clóvis André da Silva, Ilyá Sandrali Bueno, Larice Moraes, Ilyá Vera Soares, Deoclécio Souza, Jeanice Ramos, Ivan Braz, Elaine Mocambo, Carmem Fontoura, Dimair Montes, Paulo Leite e Sílvio Aquino. Durante o seminário também foram realizadas apresentações culturais.

Clóvis André da Silva lembrou a luta e o diálogo estabelecido com a participação direta de Lua, com o governo da capital, para o fortalecimento de políticas públicas de igualdade racial, que resultaram na criação do Gabinete do Povo Negro da Prefeitura de Porto Alegre. Silva criticou o desmonte das conquistas obtidas pelo atual governo. Também cobrou dos partidos ações efetivas em defesa do povo negro.

Larisse Moraes, coordenadora do Projeto Afroativos, promovido na Lomba do Pinheiro, destacou o trabalho que é realizado para valorizar a cultura negra através do pertencimento da sua própria identidade, a partir da realização de oficinas que incentivam principalmente os jovens a “prender o preconceito e a soltar o cabelo”.  Já a jornalista Jeanice Ramos, integrante do conselho de ética do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, tratou desse tema como uma importante ferramenta para o combate à discriminação. Carmem Fontoura, presidente da Associação Satélite Prontidão, falou da trajetória desta que é uma das principais entidades culturais e sociais da comunidade negra de Porto Alegre.

Silvio Aquino, servidor do Legislativo e um dos organizadores mais antigos em atividade da Semana da Consciência Negra, lembrou que as comemorações começaram ainda em 1985, com a Semana do Negro, proposta pelo então vereador Wilton Araújo (PDT). Recordou também momentos vividos em entidades como o Floresta Aurora e o Satélite Prontidão. Um momento citado por Aquino foi a campanha pela obra de instalação do assoalho da sede antiga na Aparício Borges, com o apoio de Witon Araújo – pai de Wilton - e Alceu Collares, conquistado em uma reunião no Edifício Fronteira, no centro da Capital. Também lembrou o Troféu Carlos Santos, iniciativa que vem sendo realizada desde 2001.

Dilmair Santos, produtor cultural e ex-coordenador da prefeitura, no governo Tarso Genro, dos programas voltados às políticas públicas em defesa da igualdade racial em Porto Alegre, afirmou que os primeiros debates voltados à consciência negra e ao combate ao racismo e ao preconceito em Porto Alegre tiveram início antes das leis do vereador Wilton Araújo e do vereador Adroaldo Correa (PT), na comunidade da Maria da Conceição. Segundo ele, foi a partir das manifestações artísticas lá existentes que nasceram as primeiras discussões sobre o tema.

Santos ainda destacou, como retrocesso, o fato das entidades Floresta Aurora e Satélite Prontidão terem perdido espaço para a especulação imobiliária. Também trouxe o tema do fundamentalismo religioso como um ponto negativo contra a cultura negra. Disse que tem trabalhado muito a necessidade de que os terreiros tenham uma organização legal constituída para buscar benefícios fiscais que possam reverter na qualificação das ações sociais. Também falou sobre o Carnaval, que, na sua visão, precisa ser democratizado, com eleição direta nas escolas de samba, e que deve estar preparado para não precisar se manter dependente de recursos públicos para a organização do evento. 

A programação da semana segue na próxima quarta-feira (16/11) com a realização de um ciclo de palestras na sala da Escola do Legislativo Julieta Battistioli, no 3º piso do Palácio Aloísio Filho, sobre diversidade, legislação e combate ao racismo, a mulher negra no cinema, e o racismo institucional. A 33ª Semana da Consciência Negra se encerra na próxima segunda (20/11) com a realização de uma sessão solene para a entrega do Troféu Deputado Carlos Santos a personalidades destacadas da cultura negra em diversos segmentos de suas atuações.

Quem foi José Alves Bittencourt (Lua):

José Alves Bittencourt (Lua), nascido em Bagé, falecido em novembro de 2009, aos 67 anos, vítima de complicações cardíacas, foi um militante social que lutou contra todas as formas de racismo e discriminação ao povo negro. Nos anos 70 foi um dos fundadores do Movimento Negro Unificado. Lua também idealizou e coordenou a Entidade Angola Janga, o Museu do Percurso de Porto Alegre e o Centro de Referência Afro Brasileiro, e integrou a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).

Texto: Milton Gerson (reg. prof. 6539)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)