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Alunos surdos querem ficar no CMET Paulo Freire

Alunos se manifestaram contrários à mudança Foto: Jonathan Heckler
Alunos se manifestaram contrários à mudança Foto: Jonathan Heckler
Professores e alunos do Centro Municipal de Educação do Trabalhador (CMET) Paulo Freire estiveram presentes, nesta terça-feira (11/12) pela manhã, na reunião da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece) da Câmara Municipal de Porto Alegre. Na ocasião, eles criticaram a decisão da Secretaria Municipal da Educação (SME) de retirar o segmento de alunos surdos do projeto político-pedagógico do CMET. Conforme a SME, esses alunos seriam transferidos, ainda no início de 2013, para a Escola Municipal de Ensino Fundamental de Surdos Bilíngue Salomão Watnick.

"O anseio dos alunos é pela permanência deles no CMET Paulo Freire. Nossa luta é por uma escola bilíngue.", disse Fabiane Saidelles, presidente do Conselho Escolar do Paulo Freire. "O espaço bilíngue precisa ser garantido em todos os lugares, ele transcende a escola." Há cerca de um ano, o CMET Paulo Freire está sediado no prédio antes ocupado pelo colégio Santa Rosa de Lima, na Rua Santa Teresinha, Bairro Santana.

Fabiane explicou que o ensino bilíngue para os alunos surdos, cuja primeira língua é a Língua Brasileira de Sinais (Libras), chegou a ser constituído no CMET Paulo Freire, mas hoje está ameaçado pela determinação da SME em transferir todos os alunos surdos para uma única escola municipal, a Salomão Watnick.

"O segmento de alunos surdos foi retirado do EJA (Educação de Jovens Adultos) sem consulta ao conselho escolar, o que fere os princípios da gestão democrática. Questionamos a forma como o assunto foi encaminhado pela Secretaria, pois o espaço bilíngue no CMET foi uma conquista dos últimos 15 anos. O CMET Paulo Freire atende jovens e adultos surdos, enquanto a Escola Salomão Watnick trabalha com crianças", disse Fabiane, que solicitou a intermediação da Cece junto à SME na busca de uma solução para o problema.

Vontade

Leandro da Silva Lopes, um dos 61 alunos surdos que estuda no CMET Paulo Freire, criticou a decisão da SME em transferir os alunos. "Estamos felizes no novo prédio. Há espaço para teatro e esportes e ensino bilíngue. Fui informado de que eu terei de mudar de escola no ano que vem. Mas a Escola Salomão não é boa, fica mais longe, e o deslocamento de ônibus é mais demorado. Ela é muito pequena, não tem espaço e estrutura apropriados. Nossa vontade tem de ser respeitada, queremos ficar no prédio atual. A salomão só tem contato com crianças, e eu quero ficar junto com os outros jovens."

A diretora pedagógica da SME, Eliane Meleti, relatou que um movimento de pais e professores de alunos surdos das escolas municipais de Porto Alegre foi iniciado em 1996, visando a reivindicar a construção de um espaço bilíngue nas escolas do Município. "Em 2007, o então prefeito José Fogaça solicitou à SME que criasse esse espaço. Em março de 2011, a Salomão Watnick foi reformada e adaptada para classe especial. E, a partir de 27 de fevereiro de 2013, todos os alunos surdos da rede municipal deverão ser atendidos na Salomão, com a mesma qualidade do CMET." Segundo Eliane, os alunos surdos que quiserem permanecer no CMET Paulo Freire poderão fazê-lo, mas serão matriculados como "aluno incluído" na escola regular.

A presidente do Conselho Municipal de Educação, Regina Scherer, também criticou a forma como o processo foi conduzido pela SME. Segundo ela, o documento enviado ao Conselho pela Secretaria não é o mesmo elaborado pela comunidade escolar do Paulo Freire. "O Conselho Municipal está envolvido com esse processo desde 2010. O princípio da gestão democrática está estabelecido legalmente e não vamos abrir mão dele. Não podemos analisar um projeto que não tenha sido aprovado pela comunidade escolar."

Ausência

Coordenando a reunião, o vereador Professor Garcia (PMDB) lamentou a ausência de diretores da escola e agendou nova reunião da Cece para tratar do assunto na próxima terça-feira (18/12), às 9 horas. Garcia lembrou que o CMET é uma conquista da comunidade, "que brigou por isso". Segundo ele, é preciso que a SME mostre sensibilidade e abra o diálogo com a comunidade escolar. "A Salomão Watnick tem ótima localização, mas seu espaço é inadequado."

A vereadora Sofia Cavedon (PT) ressaltou a importância de se manter o CMET Paulo Freire como um espaço bilíngue e lamentou que a Secretaria Municipal de Educação não tenha ainda avançado neste sentido, se mantendo fiel ainda ao conceito de "escola para pessoa com deficiência". Ela questionou a decisão da Secretaria em agrupar todos os alunos surdos da rede municipal de ensino em uma mesma escola e observou que a Salomão Watnick está em processo de ampliação, não tendo ainda ensino para jovens e adultos. "Embora peça desculpas à comunidade, a Secretaria continua reafirmando sua decisão contrária à vontade do conselho escolar", disse Sofia. Também participou da reunião o vereador Tarciso Flecha Negra (PSD).

Texto: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)
Edição: Helio Panzenhagen (reg. prof. 7154)