Audiência discutirá impactos da ampliação do aeroporto
A Câmara Municipal de Porto Alegre deverá promover audiência pública para discutir os possíveis impactos ambientais causados pela ampliação da pista do Aeroporto Salgado Filho. A decisão foi tomada nesta terça-feira (8/5) pelo presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara, Dr. Raul (PMDB), durante reunião que discutiu o assunto, a pedido da comunidade do entorno do Aeroporto. Aldacir Oliboni (PT) salientou que a audiência deverá discutir, prioritariamente, quais concessões a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Infraero podem fazer à comunidade. "É preciso haver compensações aos moradores", salientou.
Daniel Kieling, da Associação de Moradores e Amigos do Bairro Lindóia (Amal) observou que mais de 150 mil pessoas são atingidas, atualmente, pelo ruído do aeroporto. Ele destacou que os moradores do entorno já sofrem com os transtornos decorrentes dos vôos noturnos de carga que ocorrem diariamente entre as 22 horas e as 6 horas. "Os moradores do Lindóia têm exposição prolongada ao ruído, com prejuízos ao sono e ao aprendizado das crianças." Kieling disse que, com o possível aumento do número de rotas no aeroporto, a comunidade reivindica a regulamentação dos vôos noturnos. "Não queremos proibir vôos, mas que haja respeito às restrições para emissão de gases, ao horário de silêncio, ao Estatuto das Cidades e à qualidade de vida." Kieling lembrou ainda que a Capital cresceu na direção do Salgado Filho, tendo sido construídos alguns prédios de oito pisos em áreas de risco onde só é permitida edificação de dois andares. Ele alertou para a desvalorização dos imóveis e informou que os moradores do Lindóia estão alarmados com a possibilidade de construção de área para testes de turbinas próximo ao Jardim Lindóia.
Carlos Pereira, também da Amal, afirmou que os transtornos ambientais causados pelo aeroporto atingem vários outros bairros nas proximidades, como o São João. Segundo ele, aviões decolam a cada 10 minutos ou 15 minutos durante toda a noite, diariamente, prejudicando o sono dos moradores. "Queremos diálogo com as instituições responsáveis." De acordo com Pereira, a ampliação da pista não leva em conta a expansão dos bairros no entorno do aeroporto. "Há lixões próximos à Vila Nazaré, com grande circulação de aves e risco de colisões. O Salgado Filho está dentro da cidade e causa poluição ambiental." Como alternativa, ele sugeriu o deslocamento da cabeceira da pista no sentido esquerdo, fugindo dos bairros, ou a construção de nova pista nas proximidades da Freeway.
O engenheiro Alberto Bott, da Infraero, informou que o projeto prevê o aumento da pista em 920 metros no sentido leste, passando dos atuais 2.280m para 3.200m. Segundo ele, a ampliação da pista não é determinada apenas pelo aumento na freqüência de aeronaves (capacidade horária), mas também pela economia local. O maior comprimento da pista, explica, permite vôos com mais combustível e carga. Ele informou que ainda está em estudos a localização da área que será destinada a testes de turbinas.
Pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Roberto de Carvalho Netto lembrou que o Salgado Filho foi construído em 1923, quando a região ainda era completamente desabitada. "As construções surgiram porque o aeroporto valorizou a área." Ele garantiu que não há construções em áreas proibidas e observou que o transporte aéreo do Estado está prejudicado pela limitação ao peso das cargas dos aviões. Sobre o lixão nas proximidades do Salgado Filho, avaliou ser preciso removê-lo do local.
Antonio Roberto Vigne, representando os moradores do Bairro São João, disse que o barulho causado pelo Salgado Filho gera "situação permanente de desconforto". Ele sugeriu que a área da antiga Corlac seja utilizada para sediar o Corpo de Bombeiros, já que o prédio possui encanamento direto do Departamento Municipal de Águas e Esgoto (Dmae). Vigne lembrou que membros do Corpo de Bombeiros admitiram que não conseguiriam atender casos de urgência envolvendo aeronaves de médio e grande portes, em caso de ampliação da pista, pois a sede da corporação está distante 40 minutos do Salgado Filho. "O prefeito José Fogaça até hoje não agendou audiência com a comunidade para discutir o problema", reclamou.
Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)