ARTIGO

Cais Mauá: não podemos mais perder tempo

Em resposta ao artigo de uma professora da UFRGS contrária ao projeto de revitalização do Cais Mauá, Ramiro Rosário e Leonardo Busatto escreveram um artigo para o caderno DOC, do jornal Zero Hora, reafirmando as vantagens da concessão à iniciativa privada deste espaço abandonado há anos em Porto Alegre

Artigo publicado no caderno DOC do jornal Zero Hora
Artigo publicado no caderno DOC do jornal Zero Hora

O Cais Mauá já está privatizado: para as baratas, ratos, traças e cupins! Só eles detêm o uso exclusivo do local. O Cais Mauá é inacessível às pessoas há muito tempo. A começar por um muro que restringe a circulação próxima ao Guaíba. O maior patrimônio histórico-cultural de Porto Alegre está apartado dos seres humanos graças a posições teoricamente progressistas, mas que são, de fato, reacionárias e ultrapassadas.

Já vimos esse filme. Os opositores da reformulação da Orla do Guaíba tinham argumentos parecidos. Defendiam a preservação dos maricás, acusavam o projeto de ser “nebuloso”, denunciavam a suposta exclusão da população da periferia e ainda pediam um “debate mais democrático”. Agora, com a Orla do Guaíba revitalizada, a realidade deu as devidas respostas: a área valorizou como nunca a cidade, criou um novo e apreciado ponto turístico e é essencialmente democrática, acolhe sobretudo pessoas que residem nas franjas da Capital.

Nada como a prática para derrubar a “teoria caranguejista”. Em artigo no caderno DOC, a professora da UFRGS, Zita Possamai, se manifestou contra a menção aos caranguejos, “lembrados para apelidar aqueles e aquelas que, supostamente, andam de lado e não deixam a cidade progredir”. Ora, os animais de 10 patas são um símbolo do porto-alegrense que reluta em andar para frente. A consagração ocorreu há pouco, quando alguns deles assumiram a alcunha e fizeram publicamente a dança do caranguejo. Mas vamos aos fatos.

Não faltou debate sobre o projeto. Tivemos nove workshops e dezenas de reuniões técnicas com conselhos municipais e estaduais, Ministério Público, Tribunal de Contas, universidades, representantes dos setores comerciais, hoteleiro, clubes e operadores náuticos. Ainda foram feitas duas audiências públicas em abril e junho deste ano, com ampla participação da sociedade civil organizada, vereadores, deputados etc.

Nesses fóruns, vimos que um erro comum dos opositores da proposta é politizar a iniciativa. A revitalização do Cais Mauá não é uma questão ideológica. Isso porque a parceria com a iniciativa privada já é um instrumento utilizado por governos de todos os matizes. No Piauí, em 2017, a gestão petista concedeu à iniciativa privada a Nova Ceasa, que se tornou um ‘case’ mundial de Parceria Público-Privada (PPP). Em Salvador, o governador Jaques Wagner, também do PT, fez a primeira PPP do Brasil no setor de saúde, o Hospital do Subúrbio, que desde 2010 oferece atendimento gratuito com qualidade de uma ótima instituição particular.

Em Porto Alegre, o prefeito Nelson Marchezan Jr., do PSDB, realizou a primeira PPP da Iluminação Pública do RS, que instalará as modernas, eficientes e econômicas lâmpadas LED em 100% da cidade. A parceirização com organizações civis já levou a gestão privada para mais de 80% das unidades de saúde e permitiu que 13 postos tenham atendimento até as 22h. Em todos esses exemplos, são oferecidos serviços públicos não estatais, com gestão privada, melhores e menos burocráticos. É isso que importa. Porque o cidadão não quer saber se o médico, o enfermeiro, o professor ou o porteiro do Cais Mauá são servidores públicos concursados. O que todo mundo quer é receber um serviço de qualidade! O resto é ranço ideológico.

O Cais Mauá é o maior projeto de transformação urbana do Rio Grande do Sul. Revitalizado, vai atrair turistas, movimentar a economia da Capital, criar renda e empregos. O maior desafio é viabilizar um projeto sustentável financeiramente. Só a iniciativa privada pode alavancar um investimento gigante de mais de R$ 1 bilhão. Ter prédios residenciais e comerciais faz parte da estratégia de atrair investidores para, finalmente, realizar o antigo sonho de aproveitar as velhas docas abandonadas. Para humanizar a área, é preciso gente. Qual o problema se algumas pessoas forem morar ali?

É uma falácia dizer que o novo Cais Mauá será exclusivo a quem tem dinheiro. Qualquer pessoa poderá frequentar o local, levando seu chimarrão e cachorro, sem pagar nada. Lá, encontrará um ‘boulevard’ arborizado, com ciclovia, área de convivência e contemplação para o rio e uma série de espaços culturais, gastronômicos, turísticos, inovadores, tecnológicos, de lazer, entre outros. Quer mais plural e democrático do que isso?

A magia do nosso reencontro com o Guaíba teve uma prévia real no South Summit realizado em maio na Capital e já confirmado para os próximos anos. A beleza natural do Cais Mauá mostrou que não podemos mais perder tempo. O projeto de revitalização utiliza o potencial econômico da área como uma oportunidade de oferecer espaços urbanos diferenciados para diversos usos da população, gerando benefícios a todos os gaúchos e porto-alegrenses. Até para seus críticos, como ocorreu com a Orla do Guaíba.

Ramiro Rosário, vereador de Porto Alegre
Leonardo Busatto, secretário estadual extraordinário de Parcerias