Centenário de Paulo Freire é lembrado no Legislativo de Porto Alegre
A Câmara Municipal de Porto Alegre realizou, na noite desta terça-feira (14/12), sessão solene destinada a homenagear o centenário de nascimento de Paulo Freire, completado em 19 de agosto de 2021. A convite do autor da proposição, vereador Matheus Gomes (Psol), o professor de História da rede municipal de ensino Marcos Mello falou sobre o livro "Do lado esquerdo do peito - Paulo Freire presente!", publicado pela editora Fi. A atividade contou com o apoio e presença do líder da oposição no legislativo da capital gaúcha, vereador Pedro Ruas (Psol)
Gomes destacou o importante papel de Freire para a educação brasileira e contextualizou o seu trabalho em busca do ensino libertador, de democratização do conhecimento, com o momento atual de resistência ao desmonte das principais estruturas do Estado, principalmente da autonomia das escolas. O parlamentar reforçou que a homenagem prestada no Legislativo deixará gravado nos anais esse legado de Freire, reconhecido em mais de 100 países, das mais váriadas matizes políticas, onde o seu modelo foi aplicado.
Pedro Ruas saudou a iniciativa do colega e a presença do professor Mello para falar de Freire. Disse que pode ter um contato mais próximo com o trabalho de Freire por meio da convivência com o antropólogo e ex-senador Darcy Ribeiro, que era amigo do educador. Lembrou uma frase de Ribeiro, de "que não havia como ser marxista sem ser freiriano e o contrário respectivamente". Ruas destacou que a partir da obra "A pedagogia do oprimido" que Freire projeta sua teoria sobre a função do educador voltada a conscientizar o educando para que ele possa mudar o mundo. Também pontuou sobre a valorização do professor local, que conhece a realidade dos seus alunos como peça fundamental para uma educação libertadora.
Marcos Mello falou sobre a construção do livro, conjuntamente com colegas educadores do Coletivo de Professores de História e o apoio de outros parceiros. Citou trecho da apresentação da obra que destaca "A presença que se evoca, na ausência física, de uma ancestralidade que nos constitui e convoca a nos fazermos mais gente, pessoas e educadoras/es melhores do que somos hoje". Que é preciso reconhecer a "trajetória luminosa" e o "legado imprescindível" deixado por Freire, um "cidadão do mundo e andarilho da utopia".
Disse que comemorar e celebrar o centenário do seu nascimento é demarcar sua posição de Freire: "Do lado esquerdo, porque esse é o lado de sua gente, as desvalidas e os esfarrapados do mundo que, conscientes da opressão, da dominação e da exploração, com o povo organizado e em movimento, se comprometem a com ele lutar na superação das situações-limites na direção de uma pedagogia da libertação e um novo projeto histórico, voltado à emancipação humana".
Mello falou que a presença de Freire é necessária sempre, "porque a boa tradição e a memória coletiva de nossa classe faz jus àqueles e àquelas, entre as nossas fileiras, que tombaram, mas deixaram rastros, obras e testemunhos que podemos seguir como inspiração, a balizar caminhos, no acúmulo necessário em direção a uma educação como prática da liberdade, uma escola marcada pela boniteza da justiça curricular e um mundo onde caibam todos os mundos".
Por fim, criticou a condução da política de educação do município. Cobrou a permanência da Filosofia no currículo da rede e acusou a secretária Janaina Audino de estar ao lado de quem olha a educação com a visão de mercado.