Cosmam discute os desafios no atendimento ao Transtorno do Espectro Autista

A Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre debateu nesta terça-feira (08/04) os desafios e avanços no atendimento do transtorno do espectro autista (TEA). A reunião foi conduzida e proposta pela presidente da comissão, vereadora Psicóloga Tanise Sabino (MDB). A proponente da pauta ressaltou os desafios do cotidiano de pessoas atípicas. “Tenho acompanhado diversas mães e famílias atípicas. Não é fácil as questões do dia a dia, enfrentar as dificuldades na área da inclusão e principalmente da educação.” Também reforçou a importância de olhar para os familiares e as redes de apoio dessas pessoas. “Afeta toda a família, muitas vezes focamos só na pessoa com autismo, mas também impacta diretamente a todos”, pontuou.
A psicóloga Renata Viola Vives, representante da Clínica e Instituto Horizontes, apresentou dados de pesquisas recentes voltadas ao diagnóstico precoce. “Se considera um sinal o bebê que tem uma impossibilidade de filtrar a dor, de filtrar sensações desprazerosas no corpo, diferente de bebês que seriam típicos.” Além disso, explicou como a intervenção precoce em bebês de risco pode auxiliar no diagnóstico mais preciso do espectro. “Se nós pudermos avaliar os sinais de risco, realmente, avaliar e intervir, e atuar então sobre estes, teremos respostas satisfatórias no desenvolvimento desses sujeitos. Falamos de saúde pública, de minimizar sintomas, e por fim, do impacto econômico nos serviços públicos e privados, que o excesso de diagnósticos também acaba trazendo”, salientou.
O coordenador do Comitê Gestor do Centro de Referência do Transtorno Autista (CERTA), Alceu Gomes Filho, falou sobre a fila de espera do centro, que oferece serviço de saúde gratuito para crianças com autismo. “Temos em torno de 2.700 crianças em fila de espera, crianças que estavam judicializadas passaram na frente por lei, mas sabemos que mães da periferia, mais vulneráveis, sequer têm acesso à judicialização e seguem aguardando.” Em sua fala, exemplificou as divergências clínicas nesses processos judiciais. “Recebemos uma quantidade de determinações judiciais com horas de terapia que, se fosse calcular, a criança não teria tempo para brincar ou ficar com os pais.”
Maria Luiza Gomes Medeiros, diretora da Escola Municipal de Ensino Especial Tristão Sucupira Vianna, relatou as dificuldades enfrentadas pelas famílias da escola que buscam atendimento e acompanhamento especializado. “Para ter esse cuidado maior, a gente tem que ter a saúde muito junto. E hoje a gente não tem, não tem rapidez, não precisa de um diagnóstico rápido, mas precisamos ter onde consultar. As famílias chegam, deixam os documentos no posto de saúde e demora muito, precisamos desse suporte da saúde”, destacou.
A presidente da Associação de Familiares e Amigos das Pessoas com Autismo (AFAPA), Nara Pinheiro, compartilhou seu depoimento como mãe atípica, além de apresentar as atividades desenvolvidas pela entidade, em especial para jovens e adultos. “A gente sabe que o autista adolescente e adulto não tem o que fazer depois que ele sai da escola ou não consegue fazer as terapias. A dúvida é o que fazem esses jovens a partir de 12 e 13 anos?”, questionou.
Rafaela Gonçalves Atanazio, cirurgiã dentista da Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, ilustrou propostas de atendimento odontológico humanizado para pessoas com necessidades especiais. “Consiste em disponibilizar dois profissionais especializados, um cirurgião dentista e uma auxiliar em saúde mental, que tenham duas horas do seu atendimento voltado a pacientes com necessidades especiais e saúde mental, incluindo o TEA”, exemplificou.
Nilson Ventura, assistente administrativo da prefeitura de Porto Alegre, compartilhou suas experiências pessoais, principalmente relacionadas à inclusão no cotidiano. “A inclusão para nós que temos TEA começa no núcleo familiar. Muitos pais abandonam seus filhos, muitos dos parentes evitam as pessoas, não entendem quando as pessoas não querem participar, não entendem a situação de estar com muita gente, do barulho, do odor ou situações que alterem a questão sensorial.” Por fim, relatou os desafios de socialização e os estereótipos relacionados a pessoas autistas. “As pessoas autistas têm uma alta incidência de comorbidades, a principal delas é ansiedade e depressão, em todos os níveis. A tristeza está presente, então aquela ideia de que a pessoa não sente nada, não é verdade”, frisou.
Cristina Correia, representante da Secretaria Municipal de Saúde, esclareceu a atuação do órgão para auxiliar famílias em processo de judicialização. “Se montou um grupo de trabalho para se olhar mais de perto essas ordens judiciais e os prestadores de serviço. Para realmente a gente dar o atendimento que está sendo preconizado e fornecido por ordens judiciais, e entender se essas empresas estão realmente prestando assistências a essas crianças”, sublinhou.
Nos encaminhamentos, ficou estabelecido um pedido para o Executivo para o encaminhamento de um aditivo público ao Centro de Referência do Transtorno Autista (CERTA) para ampliação dos atendimentos. Bem como a criação de um projeto para a destinação de valores da lei orçamentária à instituição.