DIREITOS HUMANOS

Decisão judicial contra Cozinha Comunitária ignorou a fome de milhares

Juíza julgadora do processo ignorou pedidos de diversas instituições, sem preocupação com a fome

Ruas foi prestar apoio
Em Visita de apoio ao local

O vereador Pedro Ruas (PSOL), líder da Oposição na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, manifestou sua inconformidade com a decisão da Justiça Federal que pediu reintegração de posse do imóvel da União, localizado na Avenida Azenha 1018, onde o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto havia instalado uma Cozinha Comunitária para atender a demanda de moradores de rua e trabalhadores do entorno. “Me surpreende negativamente, advogado que sou, ver a forma como a Justiça agiu nesse caso. Não consigo me conformar com a decisão judicial que prioriza o direito formal de propriedade em detrimento do direito humano absoluto à alimentação.”, disse o vereador na sessão plenária desta quarta-feira (13/10), mesmo dia em que a Polícia Federal garantiu a saída da Cozinha e voluntários do local. “Incrível a rapidez com que tudo foi resolvido e como os argumentos de diversas entidades apoiadoras foram desconsiderados”, avaliou.

Pelo fato de vir realizando gestões desde o começo do ano, com o objetivo de aumentar o número de pessoas atendidas com cestas básicas, o Pedro Ruas está bem informado sobre a situação dos que tem fome. Salientou que a Constituição Federal estabelece o direito de propriedade privada, mas também disse que “o prédio estava abandonado há 50 anos, ali não havia função social”. A Cozinha Solidária da Azenha fornecia uma média de 150 viandas/dia e houve um dia que 600 refeições foram servidas. Atuou com doações de trabalho voluntário e de produtos por parte da comunidade e apoiadores. Tanto que ao ver que a reintegração de confirmou, vizinhos ajudaram e até mesmo uma cozinha nas imediações foi cedida para que a atividade fosse mantida. Da mesma forma que ofereceram ajuda, criticaram a posição do governo federal, visto que o imóvel estava completamente abandonado. Os pedidos, que foram ignorados pela Justiça, todos visando garantir o espaço para mitigar a fome de milhares de famintos não obtiveram êxito perante a Vara Judiciária que julgou o pedido de reintegração. Entre as entidades que se manifestaram figuram o Conselho de Segurança Alimentar e Sustentabilidade, Movimento dos atingidos pelas Barragens, Conselho Estadual dos Direitos Humanos, Pedal de Gurias Porto Alegre e Frente Parlamentar em Defesa da Segurança Alimentar e Nutricional da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

O Líder da Oposição lembrou que esteve no local, inclusive convidou e acompanhou a secretária de Igualdade, Cidadania, Direitos Humanos e Assistência Social Regina Becker, para conhecer o trabalho ali realizado, quando a Secretária avaliou como muito importante a iniciativa.  Ao saber que o governo estadual, através de gestões do vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, está empenhado em auxiliar a conseguir um novo local, Ruas prometeu que os vereadores da bancada de oposição serão os primeiros a apoiar e elogiar se essa atitude for concretizada. “Ali, na Azenha, ocorreu uma barbaridade”, completou.  

Ruas lembrou caso semelhante, quando o ex-governador José Ivo Sartori pediu a reintegração do espaço Lanceiros Negros, ocupação ocorrida na área central de Porto Alegre, o prédio onde funcionou o Ministério Público, esquina da Andrade Neves com General Câmara. Fechado durante muitos anos, o local havia ganhado vida pela ocupação Lanceiros Negros, com muitas famílias ali residindo. “Hoje está lá, abandonado, fechado, enquanto milhares de famílias vivem ao relento”.

Texto

Jurema Josefa

Edição

Jurema Josefa (MTB 3.882/RS)