Homenagem póstuma

Lupicínio Rodrigues agora é Cidadão de Porto Alegre

O filho de Lupi recebeu o título que homenageia o pai Foto: Ederson Nunes
O filho de Lupi recebeu o título que homenageia o pai Foto: Ederson Nunes (Foto: Foto de Ederson Nunes/CMPA)
Com a abertura de uma exposição contando a história de Lupicínio Rodrigues, a Câmara Municipal de Porto Alegre concedeu o titulo de Cidadão Emérito da Capital in memoriam ao compositor e cantor gaúcho. A exposição foi instalada no “T” cultural da Casa e contém painéis com fotos e textos evidenciando a carreira do artista, que completaria cem anos em 2014. Lupi, como era chamado, nasceu no extinto bairro da Ilhota em 1914 e faleceu em 1974 em Porto Alegre. A iniciativa de homenageá-lo com o titulo de Cidadão foi proposta pela Mesa Diretora da Casa, para destacar o legado do músico, que chegou a ser candidato a vereador, pelo antigo PR, em 1959.

O presidente da Câmara, vereador Professor Garcia (PMDB), lembrou que Lupi teve uma infância humilde e que seu pai quis que o menino aprendesse a ler e o mandou para a escola aos cinco anos de idade, mas desistiu ao entender que o filho era ainda muito pequeno. "O garoto se distraía cantando em sala de aula, motivo determinante para parar com os estudos e os retomar dois anos mais tarde," destacou.

Lupi, ainda menino, fugia de casa para participar das rodas de música no bairro e seu pai logo percebeu o talento para a composição musical. Onde ele participava com suas músicas, ganhava prêmios. Grande compositor, músico e intérprete, sua primeira marchinha foi Carnaval, que se sagrou campeã na festa de Momo e no Festival de Músicas de Carnaval da cidade. 

Carris, Ufrgs, Rio

Em 1930, o compositor trabalhou como aprendiz de mecânico na Carris. Um ano depois, foi o soldado nº 417 do 7º Batalhão de Caçadores da Capital, no qual cantava no grupo musical do quartel. Foi promovido a cabo, dando baixa em 1935, quando assumiu como bedel (inspetor de disciplina) na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). 
Em 1947, aposentou-se da Faculdade de Direito por motivo de doença. Nesse mesmo período, foi proprietário de diversos bares, churrascarias e restaurantes com música. "Dizia que não queria ganhar dinheiro, mas sim ter um local para confraternização com os amigos e suas canções."

Boemia

Em 1937, decidiu passar uma temporada no Rio de Janeiro, conhecendo a boemia da Lapa, onde conviveu com diversos artistas, entre eles, os compositores e intérpretes Mario Reis e Noel Rosa. Mais tarde conheceu Francisco Alves, que passou a ser o principal intérprete das suas composições, como Estes Moços e Cadeira Vazia. O conjunto Quitandinha gravou Felicidade, um dos seus maiores sucessos. Elza Soares, Linda Batista e Jamelão também foram intérpretes de suas canções. Suas músicas expressavam grandes sentimentos, principalmente a melancolia por um amor perdido. Lupi foi quem popularizou a expressão “dor-de-cotovelo”, de quem lamenta uma desilusão amorosa. Entre as centenas de canções compostas por ele, estão Felicidade, Cadeira Vazia, Esses Moços, Pobres Moços, Volta, Loucura, Nervos de Aço e Se Acaso Você Chegasse. 

Filho

Lupicínio Rodrigues Filho, o Lupinho, lembrou algumas passagens com seu pai, analisando suas letras e de que forma ele escrevia. “O boêmio de antigamente diria que vai buscar na dor do amor a consciência do amor ou coisa parecida”. Para ele, o seu pai diria desta forma: “Estes moços, pobres moços...”  ou descreveria uma cena trágica com carinho como “homem que é homem faz qual o cedro que perfuma o machado que o derrubou”.

Lembrou ainda que em determinada época um delegado de Polícia proibiu a serenata em Porto Alegre, o que Lupicínio mais adorava. Não se dando por vencido, "abandonou a Capital e foi morar no Rio", contou Lupinho ao mesmo tempo em que agradeceu a homenagem da Câmara, lembrando que "o pai nunca recebera em vida sequer uma medalha".  

Tricolor

Apaixonado por futebol e torcedor do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, compôs o hino do tricolor, em 1953. O músico também foi fundador e representante da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (Sbacem) no Rio Grande do Sul, por 28 anos. Faleceu em Porto Alegre, em 27 de agosto de 1974, cercado de admiradores. Seu corpo foi sepultado no Cemitério São Miguel e Almas.

Um novo bairro

O presidente da Câmara anunciou que a Casa estuda um projeto para a criação do bairro Ilhota, que englobará o Ginásio Tesourinha, a praça e o Centro Cultural Lupicínio Rodrigues (Teatro Renascença). “Será o menor bairro de Porto Alegre, mas queremos que lá a música seja latente, que não pare pelas 24 horas do dia e da noite” disse o Professor Garcia, explicando que ao mesmo tempo estará se homenageando também o ex-jogador Tesourinha, que nasceu e viveu na antiga Ilhota. “É uma justa homenagem ao maior compositor e ao maior jogador de futebol gaúcho”, completou Garcia.

Textos: Flávio Damiani (reg prof. 6180)
             Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)  
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)