Comissões

Taxistas rejeitam curso de qualificação proposto pela EPTC

Comissão debateu denúncias acerca dos cursos de formação de taxistas Foto: Ederson Nunes
Comissão debateu denúncias acerca dos cursos de formação de taxistas Foto: Ederson Nunes (Foto: Foto de Ederson Nunes/CMPA)
Cerca de 40 taxistas que compareceram, na tarde desta terça-feira (23/6), na sessão da Comissão de Urbanização, Transportes e Habitação (Cuthab), na Câmara Municipal, rejeitaram por unanimidade a proposta feita pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) que pretende implantar um curso de qualificação para os mais de 10 mil profissionais que compõem a frota de Porto Alegre. A comissão reuniu os representantes dos taxistas, EPTC, Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), para apurar denúncias de irregularidades na formação de motoristas na Capital.

O encontro foi motivado por uma série de reportagens publicadas na imprensa denunciando a conduta de um instrutor de autoescola que “ensinava falcatruas aos motoristas”, justificou o presidente da Cuthab, vereador Engenheiro Comassetto (PT), creditando a iniciativa da convocação ao vereador Bernardino Vendruscolo (PROS). Os representantes dos taxistas foram taxativos em afirmar que a categoria “paga pelo que não deve”, já que o problema ocorreu com um instrutor treinado pelo sistema Sest/Senat, cujas declarações teriam contaminado toda uma classe.
 
Defesa

“Sempre respeitamos nossos clientes e temos motoristas que trabalham na praça há mais de 40 anos”, justificou o diretor administrativo do Sintaxi, Adão Ferreira de Campos, afirmando que a prestação de serviço na Capital “foi classificada como a segunda melhor do Brasil por meio de uma pesquisa realizada pelo sindicato dos hoteleiros”. Entende que é desnecessário a realização de cursos por conta de um fato isolado que provocou toda a celeuma.

Já o presidente do Sintaxi, Walter Barcellos, culpou o Sest/Senat pelo atual momento enfrentado pela categoria, já que os instrutores são treinados por eles. Por outro lado, alegou que a EPTC mais se dedica a “cassar permissões e inventar cursos para arrecadar dinheiro” e questionou o valor do convênio com o Sest/Senat.

Celso Rovani, supervisor do ponto de táxi da Estação Rodoviária, entende que tem muita gente para ouvir a categoria e poucos para atender as reivindicações. ”Tentam fazer com que os taxistas façam cursos na marra, sem serem consultados”, desabafou, denunciando ainda a truculência dos fiscais da EPTC que, por qualquer motivo, recolhem os veículos.

Outra reclamação refere-se à instalação dos aparelhos de GPS na frota que, segundo eles, não funciona.

Contraponto

Jussandra Rigo, chefe de gabinete da EPTC, afirmou que a empresa procurou fazer uma proposta de avaliação junto aos instrutores para comprovar a qualificação dos cursos de formação. “É intenção da EPTC lançar um novo regramento no momento em que fosse renovar o credenciamento ou recadastramento dos taxistas”, afirmou. O assessor jurídico da EPTC, Renato Oliveira, lembra que a Constituição permite que qualquer instituição de ensino aplique os cursos e qualificação de instrutores. Revelou ainda que a Empresa vem desenvolvendo ações no sentido de auxiliar e esclarecer os taxistas por meio desses cursos, inclusive levando os profissionais para dentro da EPTC para que eles entendam como ela funciona. “Nossa meta é de oferecer informações sobre segurança, transporte e atendimento à população”, disse ele.

As representantes do sistema Sest/Seat, Maurenice Dias e Regina Raupp, afirmaram que estão analisando o comportamento dos instrutores. Respondendo ao questionamento do presidente do Sintaxi, disseram que todas as verbas do Pronatec são repassadas para Brasília e que a contribuição dos autônomos e pessoas jurídicas são para cobrir as despesas com pessoal na aplicação dos cursos. 

Disciplina

A motorista Andréia Ribeiro Terres, do serviço de disciplina do ponto de táxi da Estação Rodoviária, disse que ela mesma poderia ministrar o curso proposto pela EPTC, por conhecer melhor a categoria do que os instrutores que são pagos e pouco conhecem a realidade das ruas. “Temos disciplina, sim, e respeito a gente traz de casa”, desabafou, sugerindo que a EPTC aplique um curso de disciplina para os seus funcionários e não para os taxistas. Outro descontentamento alegado por ela é com relação às multas de trânsito aplicadas por fiscais camuflados, à espreita dos motoristas. “Por que ficar atrás de um poste para multar, se está fazendo o correto? Está escondido por quê?”, perguntou Andréia, reclamando ainda que os motoristas enfrentam diariamente congestionamentos no trânsito. “Isso quando não precisam fazer o papel de psicólogo dos passageiros”, concluiu.

No final, Renato Oliveira disse que irá levar todas as demandas à direção da EPTC para que sejam estudadas e posteriormente discutidas coletivamente. O presidente da Cuthab encerrou dizendo que a desconformidade entre os taxistas em relação ao curso que a EPTC está oferecendo é unânime. Comassetto concluiu que os taxistas concordam que cursos são necessários para os que estão ingressando na profissão e para os maus motoristas que precisariam de reciclagem. “Esta proposta será encaminhada ao prefeito e à presidência da EPTC”, finalizou.

Também participaram da sessão os vereadores Bernardino Vendruscolo (PROS), Airto Ferronato (PSB), Cassio Trogildo (PTB), Cláudio Janta (SDD), Carlos Casartelli (PTB) e Delegado Cleiton (PDT).


Texto: Flávio Damiani (reg. prof. 6180)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)