Plenário

Tribuna Popular destaca a Década Internacional dos Povos Afrodescendentes

Jesus lembrou Dia da Libertação da África, em 25 de maio Foto: Leonardo Contursi
Jesus lembrou Dia da Libertação da África, em 25 de maio Foto: Leonardo Contursi (Foto: Leonardo Contursi)
A Associação Nacional de Teólogos da Religião de Matriz Africana, Afro-umbandista e Indígena (Atrai) ocupou a Tribuna Popular da Câmara Municipal de Porto Alegre, na sessão desta segunda-feira (25/5), para falar sobre a Década Internacional dos Povos Afro-descendentes, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU). O presidente da Associação, Jayro Pereira de Jesus, destacou que a entidade possui também o objetivo de saudar o Dia Internacional da Libertação da África, celebrado no dia 25 de maio de 1963. "Neste ano, foi criada, por 33 chefes africanos, a Unidade Africana, em contrariedade ao neocolonialismo e à partilha irregular da África", disse.

Segundo Jesus, a Declaração sobre a Década Internacional dos Afro-descendentes foi regulamentada em 19 de dezembro de 2013, pela ONU, para trazer justiça e maior desenvolvimento aos povos africanos. "Então, as organizações das quais nós pertencemos promovem, a partir de então, a tradição da matriz africana, combatendo a colonialidade de gentes e atuando de forma radical contra o racismo", afirmou. O presidente ressaltou que a tarefa da Associação é erradicar todas as mazelas idealizadas no imaginário social sobre a raça negra e também acabar com a intolerância religiosa.

Proposições  

Jayro Pereira de Jesus aproveitou o seu tempo na Tribuna Popular para chamar a atenção dos poderes Executivo e Legislativo para os imigrantes africanos e latinos que estão chegando a Porto Alegre. "Estamos vendo uma revolta xenofóbica com haitianos e senegaleses em Porto Alegre. Pedimos a esta Casa para que este ato seja repreendido", disse. Jesus destacou também a falta de apoio à Secretaria do Povo Negro do município e disse que ela deveria merecer uma relevância maior e ser mais representativa junto ao povo negro da Capital. "Queremos, ainda, o georreferenciamento das casas de religião africana em Porto Alegre e também a construção de um projeto pedagógico para falar aos alunos sobre a "cosmopolidade" de onde vivem", ressaltou. 

O presidente destacou ainda que é preciso criar um grupo de trabalho, composto pelos poderes públicos e a comunidade, para poderem elaborar um plano de ação para a Década Nacional dos Povos Afrodescendentes. Para ele, o grupo deverá se basear no reconhecimento, na justiça e no desenvolvimento do povo africano. "Por último, quero chamar a atenção para o extermínio do povo negro em Porto Alegre e sugerir que esta Casa pense em políticas que instiguem o nosso povo a acabar com esta condição", concluiu.

Vereadores

Tarciso Flecha Negra (PSD) aproveitou o tema da tribuna popular para aprofundar a reflexão sobre a realidade do povo negro. O vereador lamenta que a população, mesmo tendo papel determinante na construção do Brasil, tenha até hoje dificuldades no acesso à educação, saúde, moradia e segurança. "Nosso grau de participação na política, inclusive, é baixo. Temos que parar e refletir o porquê. Temos que saber o que queremos para nosso país e para nossos netos", afirmou.

Sobre o mesmo tema, Delegado Cleiton (PDT) mencionou a existência de em torno de 200 milhões de negros nas Américas. O vereador ressaltou a importância de lutar pela igualdade de oportunidades deste segmento da população em relação aos não-negros. "Na história, nos deram a falsa liberdade e fomos jogados ao léu. Aqui na Câmara, tenho certeza que hoje aprovaremos as terras do Quilombo do Areal", prospectou, acrescentando que os esforços pela construção de um museu sobre o legado, história e cultura da etnia no estado prossegue, bem como a tentativa de que o 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, se torne um feriado municipal. "Das várias ruas de Porto Alegre, podemos contar nos dedos quantas têm o nome de guerreiros e militantes comunitários negros. Isso não é coitadismo, é mostrar que, infelizmente, nossa liberdade ainda não chegou."

Texto: Juliana Demarco (estagiária de Jornalismo)
          Caio Venâncio (estagiário de Jornalismo)
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)