Frente do Autismo

Uso medicinal da Cannabis entra em pauta na Frente do Autismo

Caso da menina Caroline, que teve crises severas de epilepsia controladas com óleo de CBD, foi tema na comissão presidida pelo vereador Claudio Janta

Vereador Claudio Janta com a menina Carol e Liane Pereira, mãe que recebeu autorização judicial para tratamento com óleo de canabidiol
Vereador Claudio Janta com a menina Carol e Liane Pereira, mãe que recebeu autorização judicial para tratamento com óleo de canabidiol

A defesa da qualidade de vida acima dos preconceitos foi o mote da reunião desta terça (27/8), da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos do Autista da Câmara Municipal de Porto Alegre, que abordou o uso do óleo de canabidiol (CBD) no tratamento de sintomas como a epilepsia, presente em casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Apresentando um caso de referência no Rio Grande do Sul e no país, a comissão presidida pelo vereador Claudio Janta (Solidariedade) teve a participação de Liane Pereira, moradora de Canoas que conseguiu um habeas corpus para o cultivo da Cannabis e a manipulação da substância para tratar a filha Caroline, de 9 anos.

Diagnosticada com Síndrome de Dravet, doença rara, associada a quadros severos de epilepsia, a menina chegava a ter 60 crises por dia. Relatando a rotina difícil, com passagens recorrentes pelo hospital, Liane explicou que até a substituição do tratamento convencional pelas seis gotinhas do óleo extraído em casa, foi um longo caminho repleto de pesquisa, testes e batalhas judiciais.

"O tratamento tinha custo de R$ 3 mil ao mês e, em janeiro de 2017, o governo liberou por três meses a verba para o uso do medicamento importado. Depois, liberou por mais nove, mas pegamos períodos de greve e paralisações, ficamos presos no hospital", relatou Liane.

Além do custo alto e das incertezas envolvidas no financiamento público do tratamento, a qualidade do óleo extraído também era uma preocupação. De acordo com Liane, a composição dos óleos pode apresentar variações nos percentuais de Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD), as duas substâncias presentes na Cannabis. "Em casa conseguimos fazer o óleo perfeito para o caso da Carol, além de ser aprovado pelos órgãos reguladores", explicou, acrescentando a necessidade do aval da Anvisa.

Antes dependente de cadeira de rodas e incapaz de formular palavras, Carol assistia atenta à palestra na primeira fileira. Sorridente, falante e bastante ativa, há quase um ano ela não manifesta nenhuma crise de epilepsia e pôde, finalmente, trocar o ambiente hospitalar pela escola. 

Prescrição médica e autorização judicial

Apesar do entusiasmo com os resultados praticamente milagrosos para a condição da filha, Liane reiterou a importância do acompanhamento médico ao longo de todo o processo, bem como da prescrição da substância. "Não se deve simplesmente substituir o tratamento com a medicação convencional pelo outro - é um longo processo que precisa ser acompanhado, para que as dosagens possam ser equilibradas até que possa, de fato, ser dispensada a necessidade do medicamento", explicou.

Outro ponto reforçado por Liane foi que, assim como a qualidade das substâncias pode expor a saúde, a ilegalidade é um risco grande demais para quem depende do produto. "E se for preciso levar o tratamento até um hospital, ou se uma denúncia levar à apreensão? Não fiquem na angústia da ilegalidade. Quem precisa, recorra à Justiça", reforçou.

Apelo ao Senado Federal

O projeto de lei que legaliza o pequeno porte e propõe o uso terapêutico da Cannabis foi desarquivado no Senado Federal em fevereiro deste ano, acendendo a esperança de quem busca o tratamento como alternativa. Apoiando a causa, o vereador Claudio Janta afirmou a intenção de submeter à Câmara Municipal uma moção, para que o parlamento da Capital Gaúcha possa manifestar apoio à matéria que tramita em Brasília, além de sugerir a proposta aos Legislativos de outros municípios que instalaram frentes parlamentares relacionadas.

Defendendo o avanço de políticas públicas na área, Claudio Janta concluiu a reunião reiterando o compromisso da Frente Parlamentar e os resultados esperados. "Técnicas estão aparecendo na Frente do Autismo, sejam elas medicinais ou terapêuticas. Temos um papel de fazer com que pais, instituições e os governos possam se apropriar deste conhecimento e, principalmente, tornar estes encaminhamentos mais acessíveis às famílias, não apenas nos grandes hospitais, mas na sua unidade de saúde", reforçou o vereador.

Texto

Andréia Sarmanho (reg. prof. 15.592)