Comissões

Vila Kédi/Caddie: moradores se declaram quilombolas e temem remoção

Vereadores da Cedecobdh e Cuthab visitaram a área nesta terça-feira

  • Reunião Conjunta das Comissões CUTHAB e CEDECONDH na Vila Kedi para conversar com representantes da comunidade no próprio local.  Presença do Secretário André Machado e dos Vereadores das comissões
    Comissões da Câmara visitaram a vila e foram conduzidos por líder comunitária (Foto: Elson Sempe Pedroso)
  • Reunião Conjunta das Comissões CUTHAB e CEDECONDH na Vila Kedi para conversar com representantes da comunidade no próprio local.  Presença do Secretário André Machado e dos Vereadores das comissões
    Possibilidade de remoção assusta moradores da Vila Kédi/Caddie (Foto: Elson Sempe Pedroso)

Localizada em área nobre e de alto custo aquisitivo, a Vila Kédi nasceu quando a região ainda era considerada periférica em relação à cidade. Há mais de cem anos, o espaço vem abrigando gerações que começaram a se instalar ali pela demanda de trabalho gerada pelo Country Club. Assim como a área passou a ser valorizada com o tempo, as famílias construíram suas histórias e consolidaram suas raízes, somando hoje mais de 800 pessoas. A partir de decisão judicial de 2014, a comunidade, autodeclarada quilombola, luta contra a possibilidade de ser removida para outro local. 

Representantes das Comissões de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) e de Urbanização, Transportes e Habitação (Cuthab) da Câmara Municipal de Porto Alegre visitaram, na tarde desta terça-feira (1º/6), a comunidade situada entre a Avenida Nilo Peçanha  e a Avenida Frei Caneca, conhecendo o contraste entre as residências da Vila Kédi e dos imóveis de luxo ao redor.

Realocação

A professora da comunidade Julia da Costa Silva apresentou moradores e líderes comunitários aos vereadores, explicitando a necessidade da permanência das famílias na região. Como exemplo, Julia cita o maior terreno da Vila, que abriga seis famílias, sendo parte delas dois deficientes visuais e um deficiente físico, que contam com atendimento médico mensal domiciliar. Caso as famílias sejam realocadas, existe o temor de que haja separação das famílias e também dificuldade nestes atendimentos. Segundo Julia, não há existência de tráfico no local e as cerca de 120 famílias que moram na Vila Kédi tomam conta umas das outras, garantindo a segurança de todos. 

O secretário municipal de Habitação e Regularização Fundiária de Porto Alegre, André Machado, afirmou que é necessário reverter a decisão judicial que determina a remoção das famílias. Reforçou a necessidade de um cadastramento dos moradores para reconhecimento da área e para auxiliar no desfecho. “Tenho respeito à ancestralidade e a cultura de cada um, acompanhamos outros quilombos já consolidados aqui em Porto Alegre”, disse o secretário ao demonstrar-se interessado em encontrar uma solução para os moradores.

Vereadores

O presidente da Cuthab, vereador Cassiá Carpes (PP), afirmou que os moradores terão participação efetiva nos debates em conjunto com a prefeitura e o Ministério Público para solucionar o impasse. Já o vereador Alexandre Bobadra (PSL), presidente da Cedecondh, considerou importante a reunião de vereadores de diferentes vertentes ideológicas para construírem juntos uma alternativa em busca de manter os moradores no local dentro do possível.

Para a vereadora Reginete Bispo (PT), da Cedecondh, a autodeclaração da comunidade da Vila Kédi como quilombola poderá criar possibilidades que antes não existiam. Além de ter recuperado a memória das famílias que estão no local desde o fim do século XIX. A estrutura dos quilombos urbanos em Porto Alegre é considerada pelo vereador Matheus Gomes (PSol), também da Cedecondh, como uma conquista do povo negro e pode ser um tema para a gestão municipal. Também participou da visita o vereador Hamilton Sossmeier (PTB), da Cuthab.

Texto

Liziane Cordeiro (reg. prof. 14176)

Edição

Helio Panzenhagen (reg. prof. 7154)