Violência contra a população LGBT é tema de reunião da Cedecondh
A Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal de Porto Alegre realizou reunião, na manhã desta quinta-feira (11/9), para discutir a violência contra a população LGBT na Capital. A principal reivindicação não concentrou-se, somente, em torno das poucas denúncias registradas ou dos poucos dados existentes sobre os crimes de intolerância mas também no fato de que durante a denúncia, existe preconceito por parte de órgãos que deveriam servir para proteger a comunidade. A falta de discussão e a incapacidade do governo de tomar a pauta como prioridade também foram temas debatidos pelas entidades presentes.
Não somos minoria em relação à quantidade mas em relação ao poder, destacou o coordenador do grupo Desobedeça LGBT, Roberto Seitenfus. De acordo com ele, para que haja estatísticas, é necessário que haja denúncia, no entanto, para que haja denúncia não pode haver impunidade. Só poderemos ter estatísticas quando o Estado reconhecer que não faz nada. Nós temos a maior parada gay do mundo, entretanto temos também o maior número de homossexuais assassinados, disse.
Conforme pesquisa realizada pelo Centro Universitário IPA nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, trazida pela presidente da ONG igualdade RS, Marcely Malta, 79% dos travestis já tiveram todos os seus direitos violados. Conforme Marcely, a violência e a intolerância contra a população LGBT surgem em diversos setores da sociedade. Existe a problemática da evasão escolar, a dificuldade do emprego, a violência, o preconceito e a forma de tratamento durante o acesso aos órgãos de saúde e justiça, ressaltou.
Humanização
Não falta capacitação, falta humanização, garantiu a secretária adjunta da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, Glória Crystal. De acordo com ela, a maioria das pessoas que sofre crime de homofobia não denuncia. Não quero generalizar, no entanto, a grande maioria da população LGBT é hostilizada quando denuncia, afirmou. Contrapondo a fala da delegada de Polícia Patrícia Sanchotene, que falou sobre a carteira de identidade com nome social, Glória afirmou que a carteira não é respeitada.
A carteira de nome social garante os direitos da população LGBT de ter sua identidade de gênero reconhecida e é válida para tratamento nominal nos órgãos do poder Executivo do Estado. Conforme Patrícia, o Rio Grande do Sul é pioneiro no assunto. No entanto, a iniciativa apresenta dificuldades no dia a dia. Como relata Glória, os postos de saúde são um exemplo dos constrangimentos pelos quais a população LGBT é forçada a conviver. Muitas vezes as enfermeiras se negam a chamar pelo nome da carteira de nome social e chamam pelo nome da identidade. Dizem para entrar na fila destinada aos homens e elas acabam indo embora, relatou Glória.
Desafio
Para o secretário da ONG Nuances, Célio Golin, a falta de discussão e a incapacidade do governo de tomar a pauta como prioridade é uma forte agravante da situação. O Estado não está conseguindo assumir o problema como uma bandeira e isso dificulta as denúncias, os dados e a realização de políticas públicas, disse. De acordo com a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), a situação traz um enorme desafio. A grande maioria não faz projetos civilizatórios para serem aprovados. Não temos avanço na criminalização de uma prática que mata pessoas pela sua opção sexual, afirmou.
Encaminhamento
O presidente da comissão, vereador Alberto Kopittke (PT), propôs a criação de uma delegacia da diversidade, onde a população LGBT receberia tratamento diferenciado e humanizado. O vereador também sugeriu a criação de uma corregedoria externa e realização de uma pesquisa de vitimização que auxilie na obtenção de dados.
Também estiveram presentes na reunião os vereadores Mário Fraga (PDT), Séfora Mota (PRB) e Mônica Leal (PP), o representante da BM, major Albuquerque, o presidente da comissão de Diversidade Sexual da OAB/RS, Leonardo Vaz, o representante do Juntos, Lucas Maróstica, e o coordenador jurídico da ONG Somos, Bernardo Amorin.
Texto: Thamiriz Amado (estagiária de Jornalismo)
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)