INSTITUCIONAL

Audiência Pública trata de proposta de concessão do saneamento

  • Audiência Pública debate o Projeto de Lei do Executivo Nº 028/25, que autoriza a concessão parcial dos serviços públicos de saneamento do Município de Porto Alegre.
    Matheus da Rocha, diretor de Inovação, Parcerias e Novos Negócios do Dmae (Foto: Fernando Antunes/CMPA - Uso público, resguardado o crédito obrigatório)
  • Audiência Pública debate o Projeto de Lei do Executivo Nº 028/25, que autoriza a concessão parcial dos serviços públicos de saneamento do Município de Porto Alegre.
    Edson Zomar, representante do Simpa (Foto: Ana Terra Firmino/CMPA - Uso público, resguardado o crédito obrigatório)

A Câmara Municipal de Porto Alegre realizou uma Audiência Pública na noite desta terça-feira (3) para tratar do projeto de lei do Executivo que autoriza a concessão parcial dos serviços do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). A reunião, que foi conduzida pela presidente do Legislativo, vereadora Comandante Nádia (PL), deu início ao ciclo de audiências para debater a proposta nas 17 regiões do Orçamento Participativo.

A vice-prefeita, Betina Worm, destacou a importância de ouvir a população e defendeu o modelo de concessão parcial. O secretário-geral de governo, André Coronel, ressaltou que a proposta é distinta de uma privatização e foi debatida na campanha que reelegeu Sebastião Melo como prefeito. “Estamos buscando acelerar os investimentos para as pessoas que mais precisam”, disse, destacando que pouco mais de 50% do esgoto da Capital é tratado. Ele afirmou que a concessão busca atender às metas de universalização do saneamento básico previstas em legislação federal.

O diretor-executivo do Dmae, Vicente Perrone, mostrou imagens de esgoto a céu aberto e afirmou que a proposta visa à “dignidade e à qualidade de vida” da população. “Estamos falando de serviço para todos”, disse, ressaltando que o tema envolve saúde pública. Matheus da Rocha, também diretor do Dmae, defendeu que o Departamento não tem capacidade de investimento para atender às metas do Marco do Saneamento. Afirmou, ainda, que os recursos da outorga serão destinados à qualificação dos serviços do Dmae.

Edson Zomar, diretor do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), disse que a Prefeitura precariza os serviços do Dmae intencionalmente desde a gestão de Nelson Marchezan Jr, por meio de estratégias como a falta de reposição de servidores: “Eles querem dizer que o Dmae não funciona, e que, para funcionar, precisa fazer a concessão”. Zomar mencionou exemplos de outros países para defender que a gestão privada não é uma garantia de melhora nos serviços. Disse também que a proposta implica “a apropriação de um direito público para que um parceiro privado arrecade mais e ganhe lucro”.

Nas falas dos parlamentares, Giovani Culau e Coletivo (PCdoB), Jonas Reis (PT), Juliana de Souza (PT) e Natasha Ferreira (PT) fizeram críticas à proposta do Executivo. Os vereadores Idenir Cecchim (MDB), Jessé Sangalli (PL), Marcos Felipi (Cidadania) e Rafael Fleck (MDB) manifestaram apoio ao projeto.

Contrários à proposta

Cinco pessoas se inscreveram para falar na audiência, todos contrários à concessão. Roberto Mazzocco, representante de uma associação de empreendedores da Restinga, disse que a justificativa do projeto é uma comprovação de má gestão da Prefeitura: “Passar adiante é um sinal de incompetência. Entregar é uma solução fácil”. Ele cobrou a apresentação de soluções que não envolvam o patrimônio público: “Vão entregar de bandeja o que foi construído pela sociedade”.

Paulo de Tarso Gaspar, do Fórum Latino-americano de Defesa do Consumidor, disse que a conta será paga pelos consumidores da Capital. Ex-presidente da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), ele afirmou que a CEEE se tornou um “fórum de defesa de interesses privados” após sua privatização. Disse que a proposta da Prefeitura está mal explicada e cobrou garantias de que a tarifa não irá aumentar.

Guilherme Toledo Barbosa, ex-diretor do Dmae, criticou a falta de investimento dos recursos acumulados pelo Departamento e fez uma previsão sobre a empresa vencedora da concorrência na Capital: “Todo mundo sabe que, se vier essa concessão por 35 anos, a Aegea vai ganhar”. Ele disse que não haverá competição em Porto Alegre: “Todo mundo será obrigado a contratar os serviços pelo preço que a empresa estabelecer. A água vai aumentar e o serviço vai piorar”.

Representante do Comitê em Defesa da Água e do Dmae Público, Alexandre Abreu disse que a proposta é um “crime contra a cidade de Porto Alegre”, afirmando que a Capital pode ter prejuízos semelhantes aos de municípios que acabaram revertendo a concessão no saneamento. Ressaltou que o Dmae conta hoje com um terço de seus servidores e que não há reposição no quadro: “É uma precarização preparada para justificar a privatização”. Também pediu um plebiscito sobre o projeto.

Neiva Lazzarotto, representante do Cpers, cobrou informações sobre o prazo da concessão e o valor da outorga, que não estão especificadas no projeto: “Posso concluir que os vereadores, ao votar esse projeto, estarão assinando um cheque em branco para o prefeito”. Afirmou que a proposta representa um “grande negócio” e questionou a legitimidade de um governante com mandato de quatro anos fazer uma concessão para 35 anos.

Texto

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)

Edição

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)