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Nova ponte do Guaíba preocupa moradores das ilhas

Liane Farias promete mobilização para chamar a atenção do Dnit Foto: Cristiane Moreira
Liane Farias promete mobilização para chamar a atenção do Dnit Foto: Cristiane Moreira (Foto: Cristiane Moreira/CMPA)
Em reunião realizada na manhã desta terça-feira (20/5), na Câmara Municipal de Porto Alegre, moradores das ilhas demonstraram preocupação com as desapropriações e a possível retirada de famílias por causa da construção da segunda ponte sobre o Guaíba. O tema foi discutido na Comissão de Urbanização, Transportes e Habitação (Cuthab) por solicitação do vereador Pedro Ruas (PSOL). “A nova ponte terá sete quilômetros de extensão e 28 metros de largura. Mas ali onde ela será construída existem 850 famílias que moram há décadas na região. Temos que ter sensibilidade com essas pessoas, que correm o risco de serem removidas e até agora não sabem para onde vão”, ressaltou o parlamentar.

Os moradores presentes no plenário Ana Terra reclamaram da falta de informações sobre o projeto. Convidado para a reunião, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), responsável pela obra, não enviou representante.

Algumas pessoas denunciaram que já há demarcação e escavação de áreas e que os operários, quando questionados, dizem que não podem responder ou que não sabem de nada. “Se o Dnit não aparecer, a gente tranca a ponte e faz eles aparecerem”, afirmou Liane Souza Farias.

Adelino Saldanha, que mora na Ilha Grande dos Marinheiros há 65 anos, denunciou a venda de terrenos nas ilhas. “Estamos pedindo dignidade”. Já Beatriz Gonçalves, moradora da Ilha da Pintada, ressaltou a importância de o município não perder a chance de regularizar a situação das ilhas. “Ninguém sairá das ilhas, Essa é a nossa meta porque queremos nossos direitos garantidos. De lá ninguém sai”, disse ela.

Demhab

O diretor-geral do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Everton Braz, afirmou que uma obra tão importante não pode violar direitos das pessoas atingidas. “Desde o início, estamos em contato com o Dnit para tratar dessas questões que envolvem a comunidade. Entregamos um documento ao diretor do Dnit e à presidenta Dilma com as demandas dos moradores, que não querem soluções temporárias, mas definitivas”, destacou.

Segundo ele, a empresa vencedora (Queiroz Galvão) foi contratada com anteprojeto e tem um prazo para definir o projeto definitivo da nova ponte. “É isso que vai definir o traçado e as áreas que serão atingidas pelas obras.”

Informou, ainda, que o Demhab indicou áreas ao Dnit para o reassentamento das famílias. “Pedimos que fosse incluído no contrato que a empresa que fará a obra também construísse as casas para as famílias que serão removidas. Nosso compromisso é garantir moradia digna à comunidade nas áreas apontadas por eles.” Braz também garantiu que ninguém vai sair das ilhas. “A não ser quem queira. Isso está permanentemente consolidado. Não vamos retroceder.”

Vereadores

Fernanda Melchionna (PSOL) reclamou da ausência do Dnit na reunião. “Antes da ponte, temos pessoas, temos vida! Gente que luta há mais de 60 anos por dignidade.” Também criticou a empreiteira contratada para fazer a obra. “É uma vergonha que a comunidade e os vereadores não conheçam o traçado.”

Cláudio Janta (SDD) disse que a prefeitura não tem recursos para alojar as 850 famílias. “Isso precisa estar definido para que não aconteça como ocorreu na vila Tronco, onde até hoje temos dificuldades para estabelecer a indenização aos moradores.”

Alceu Brasinha (PTB) salientou a importância da mobilização da comunidade. Delegado Cleiton (PDT) apontou o descaso dos governos estadual e federal com os moradores de áreas afetadas por grandes obras. Já o vereador Engenheiro Comassetto (PT) propôs a criação de uma comissão permanente para a elaboração de um projeto que regularize as moradias nas ilhas de uma vez por todas.

Como encaminhamento, o presidente da Cuthab, Paulinho Motorista (PSB), agendou uma visita da comissão às ilhas para a próxima segunda-feira (26/5) às 10h. O objetivo é verificar as condições do local e levar relatos e imagens ao Dnit e à empreiteira.


Texto: Maurício Macedo (reg. prof. 9532)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)