CPI

Procempa era laranja no esquema de corrupção, diz sindicalista

Vera Guasso com os vereadores Mauro Pinheiro e Nereu D’Avila (d) Foto: Ederson Nunes
Vera Guasso com os vereadores Mauro Pinheiro e Nereu D’Avila (d) Foto: Ederson Nunes

Durante o período entre os anos de 2005 e início de 2013, a Procempa funcionou como uma empresa laranja para que um grupo de pessoas com cargos de chefia fizesse negócios privados. "A companhia foi transformada num verdadeiro balcão de negócios, por meio de corrupção." As afirmações foram feitas pela sindicalista Vera Guasso, diretora coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados do RS (SindPPD/RS), durante depoimento prestado à CPI da Procempa, na Câmara Municipal de Porto Alegre, nesta quarta-feira (2/10). A reunião foi coordenada pelo presidente da CPI, vereador Mauro Pinheiro (PT).

De acordo com Vera, um grupo utilizava recursos públicos para montar negócios externos à Procempa e atendendo "favores" como elaboração de livros, a pedido de secretarias municipais da prefeitura, e promovendo ou financiando festas e eventos sem relação com a atividade-fim da companhia, a área de tecnologia da informação. Vera lembrou que, desde 2008, o SindPPD já fazia "denúncias muito fortes" sobre a situação vivida pela Procempa, com acompanhamento de uma comissão de trabalhadores da empresa formada em 2007. "Fizemos denúncia formal no Ministério Público do Trabalho e no Ministério Público de Contas sobre as ilegalidades envolvendo nomeações de pessoas em cargos em comissão, além de reuniões com procuradores, Ministério Público Estadual e contatos com os vereadores."

Em 2010, contou Vera, surgiram novas denúncias muito graves contra a Procempa e, com a troca de pessoas em alguns cargos de comando na empresa neste ano, o esquema tornou-se público. "Em meio à greve dos trabalhadores da Procempa, neste ano, começamos a receber documentos muito pesados, denúncias do que se costuma chamar de "fogo amigo". Com a mudança dos acordos políticos na prefeitura, após a última eleição a prefeito, houve necessidade de mexer em cargos de direção da Procempa." Com a perda do cargo de diretora financeira da Procempa, Geórgia Ferreira teria aberto "disputa cega" por cargos. "Geórgia, então, começou a dar declarações denunciando o esquema", relatou Vera.

"Ainda não sabemos (SindPPD) tudo o que aconteceu dentro da empresa nesse período. Acreditamos que o Ministério Público e outros órgãos que investigam o caso devem ter informações muito pesadas e que vão esclarecer mais dúvidas. Mas temos a certeza de que o que aconteceu na Procempa desde 2005 até recentemente são fatos muito graves", disse a sindicalista. 

Na opinião de Vera, muitas coisas poderiam ter sido evitadas se não tivesse havido a colaboração de pequeno grupo dentro da própria Procempa. Segundo ela, nos últimos meses antes do escândalo resultante da prisão de dirigentes, a empresa viveu dias tensos, em que os servidores da companhia puderam presenciar "gritarias e discussões nos corredores" entre pessoas envolvidas no esquema, que incluía até mesmo pequenas chantagens.

"Quando estouraram as primeiras denúncias, em 2010, e o André Imar (Kulczynski) ainda era o presidente da Procempa, participei de um debate sobre o caso em um programa de televisão. Na ocasião, o vereador Idenir Cecchim (PMDB) dizia que eu estava mentindo. Foi dito, na Câmara, que estavam inventando e usando o caso politicamente. Na verdade, estamos protegendo uma empresa pública. Não é possível que esse dinheiro todo, mais de R$ 50 milhões, não estivesse servindo para capacitar a Procempa. Queremos que a corrupção na Procempa seja extirpada e que a empresa volte a ter eficiência, pois tem um quadro (funcional) muito capacitado e presta serviços relevantes e de qualidade", declarou.

Vera afirmou ainda que o SindPPD deseja que todas as denúncias sejam apuradas e que se chegue à verdade sobre os fatos que envolveram o esquema de desvio de dinheiro público montado dentro da Procempa. "Não vamos tolerar a impunidade. É preciso apurar as responsabilidades e fazer com que os culpados devolvam o dinheiro desviado." Ela garantiu também que o Sindicato deseja punição inclusive para trabalhadores que eventualmente tenham participado do esquema.

Confira algumas das informações prestadas pela sindicalista:

CCs – Lembrou que, em 31 de maio de 2010, o SindPPD denunciou, na Tribuna Popular da sessão ordinária da Câmara, que a Procempa havia se transformado num "grande cabide de emprego", com terceirizações, estágios irregulares proliferação de indicações políticas para cargos em comissão na empresa. Segundo Vera Guasso, os CCs correspondem, atualmente, a mais de 60% dos servidores. "Existe uma Procempa do quadro de funcionários efetivos e outra Procempa de indicações políticas." Segundo ela, todos os partidos da base do governo municipal tinham pessoas indicadas ocupando cargos em comissão na empresa.

Fantasmas – Vera Guasso denunciou que, hoje, há pelo menos duas pessoas incluídas na folha de pagamento da Procempa sem nunca terem trabalhado lá: Diego Buralde e Paulo Rogoski. A sindicalista prometeu enviar à CPI uma lista de outras pessoas que receberiam salários da Procempa sem comparecer ao trabalho.

Favores – Teria havido processo de cooptação interna de um pequeno grupo de funcionários da Procempa, por parte de pessoas que participavam do esquema, por meio de concessão de benefícios.

Festas – Segundo Vera Guasso, o então presidente da Procempa concedia "pequenos favores" inclusive a secretários municipais. Neste período entre 2005 e início de 2013, a empresa financiou festas, coquetéis e outros eventos. "Os pedidos vinham de pessoas de fora da empresa. Esses eventos envolviam muito dinheiro. Muitas empresas terceirizadas pagavam favores a partir das festas." O esquema das festas, segundo ela, era sempre organizado pela Associação de Funcionários.

LivroEm 2007, a Procempa patrocinou o lançamento do livro Veredas Tecnológicas, de Vanessa Trois. "Por que um secretário municipal faz pedido para que a Procempa faça um livro, se ela é uma empresa de TI?", questionou Vera.

Desmonte - Com a atuação do esquema de desvios de dinheiro público, haveria um processo de desmonte da Procempa, o que abriria caminho para a sua privatização mais tarde.

Imprensa - Em 2009, segundo Vera Guasso, a Procempa teria publicado notas pagas, nos meios de comunicação, com objetivo de atacar o SindPPD.

Plansul - Após o rompimento de contrato com a empresa Plansul, os trabalhadores da empresa privada ficavam "depositados" na sede da Procempa, "sentados nas escadarias durante dias".

Gratificações – O SindPPD considera incorretos os critérios utilizados para concessão de gratificações para cargos de chefias da Procempa, pois teria criado demanda financeira maior do que já vinha tendo.

Planos de saúde – Mesmo após saírem da Procempa, conselheiros continuavam usufruindo de planos de saúde e odontológicos conveniados com a empresa. Em 2008, foram assinadas decisões fazendo retroagir os benefícios a 2005.

Texto: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)