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Vereadores visitam Hospital Psiquiátrico São Pedro

Pavilhão ocupado por grupos de teatro Foto: Bruno Todeschini
Pavilhão ocupado por grupos de teatro Foto: Bruno Todeschini

Membros da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece) da Câmara Municipal de Porto Alegre visitaram, nesta sexta-feira (26/2) pela manhã, alguns pavilhões do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP). O objetivo da visita foi conhecer as condições dos pavilhões 5 e 6, cedidos pelo Estado, há 10 anos, para cinco grupos de teatro de rua da Capital para realização de ensaios e espetáculos. Os vereadores reuniram-se com a direção do HPSP para debater a possibilidade de alocar os grupos de teatro em outros espaços dentro do hospital, já que os pavilhões hoje utilizados deverão ser desocupados para reformas.

Além das vereadoras Fernanda Melchionna (PSOL) e Sofia Cavedon (PT), da Cece, acompanhou a visita o vereador Toni Proença (PPS). A comitiva, composta ainda por cinco representantes do Conselho Municipal de Cultura, entre eles o presidente, Paulo Roberto Guimarães, e Breno Ketzer, da Secretaria Municipal de Cultura, foi recebida pelo diretor do HPSP, Luiz Coronel, o diretor administrativo, Tailor Massup, o assessor das direções do HPSP, Ubirajara Brites, e membros dos grupos de teatro.

Reforma

Construções iniciadas em 1879, hoje tombadas como patrimônio histórico, os pavilhões do HPSP apresentam deterioração nas aberturas e no teto de algumas alas, além de problemas na rede elétrica e hidráulica. De acordo com Massup, os prédios que estão em funcionamento comportam apenas o setor administrativo, o acervo do memorial e a oficina de criatividade. “Após o tombamento, não podemos realizar reformas”, explicou. Dentro de salas que passaram por pintura e limpeza, mas que ainda correm o risco de infiltrações de umidade devido a estragos nos telhados, a equipe do memorial histórico do hospital guarda antigos livros de registros de pacientes e o livro de visitas, onde consta a assinatura da primeira visitante ilustre, a Princesa Isabel, que lá esteve em 1885.

Luiz Coronel explica que desde 1994, quando foi retirado o último grupo de internos devido às más condições dos prédios, e depois da reforma psiquiátrica, o hospital se adaptou a uma nova realidade, que é a busca do atendimento de qualidade numa escala de prevalências das doenças mentais que hoje acometem a população. A lista é encabeçada pela epidemia do crack, seguida da epidemia de depressão, maior causa do suicídio - cujo índice entre os jovens gaúchos é considerado o mais alto do país. Em terceiro lugar, estão os desvios de comportamento, que atingem crianças e adolescentes, e por último as psicoses, “destacando-se a demência, que atinge principalmente a idosos”, explica Coronel.

Segundo o psiquiatra, o hospital presta assistência ao atendimento, hoje, de uma população de 5 milhões de pessoas em 88 municípios do estado. “Somos referência no Brasil em dependentes do crack, pesquisamos e formamos profissionais especializados neste tipo de tratamento e ajudamos outros estados nessa epidemia”, diz. Depois de 30 anos sem investimentos, a idade média dos servidores chegou aos 54 anos, situação que começa a mudar, explica Coronel, com a recente autorização para a contratação de 50 técnicos, 10 psiquiatras e 10 enfermeiros.

Cultura

O vereador Toni Proença questionou se, dentro do novo projeto de saúde mental, é interessante ao hospital a permanência dos grupos de teatro nas dependências do São Pedro, ao que o diretor Luiz Coronel respondeu explicando que algumas premissas devem ser respeitadas para que haja destinação de verba para as restaurações e reformas que o espaço precisa passar nos próximos anos. “O HPSP tem de permanecer público, indivisível, deve continuar a servir à saúde, com espaços para educação e cultura”. 

Para permanecer no HPSP, os representantes dos grupos de teatro propuseram, primeiramente, arcar com as despesas para o conserto da rede elétrica dos pavilhões que ocupam, reforma de banheiros, rampas de acessibilidade e programa de prevenção a incêndio. Se não for possível continuar nos pavilhões 5 e 6, os grupos reivindicam ocupar provisoriamente outros espaços dentro do próprio HPSP que já passaram por reparos.

Ao encerrar a reunião, a vereadora Fernanda Melchionna propôs a presença da direção do HPSP juntamente com a Secretaria de Obras, da Saúde, da Cultura e Patrimônio Histórico e outros órgãos envolvidos na reforma dos espaços, além dos representantes dos grupos Oigalê, Caixa Preta, Falos e Estercus, Neliq e Povo da Rua, em audiência com a Cece marcada para o dia 23 de março na Câmara Municipal. “Vamos, juntos, buscar desenhar as alternativas para evitar a saída dos grupos daqui, já que dentro do novo conceito de políticas de saúde mental, o trabalho que vêm realizando se torna importante para a recuperação dos internos e a interatividade com a população em geral”, disse Fernanda.

A Cece é composta pelos vereadores Mauro Zacher (PDT) e Sofia Cavedon (PT), presidente e vice, Haroldo de Souza (PMDB), Tarciso Flecha Negra (PDT) e Fernanda Melchionna (PSOL).

Carla Kunze (reg. prof. 13515)

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